quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A ROÇA DE ALGODÃO DO MEU PAI Por Stela Siebra Brito

Quando éramos crianças meu pai reunia a meninada ao seu redor e, sob a luz de um candeeiro de querosene, costumava nos contar histórias de trancoso, cheias da riqueza, da magia e do encanto do imaginário proveniente da nossa herança indígena, africana e portuguesa. Grandefascínio aquelas histórias exerciam sobre nós!

Depois, quando já éramos todos adultos, papai nos emocionou contando histórias reais: as da sua vida. Eram histórias simples do cotidiano de um sertanejo, histórias que retratavam a singeleza da vida daqueles que aguardam a chegada das chuvas para plantar e garantir a sobrevivência da família, histórias repletas de lições práticas de um homem que desde criança buscava alternativas criativas para vencer as adversidades da vida.

Das muitas histórias que Joaquim Valdevino de Brito contava, quero destacar especialmente

uma que traduz bem seu espírito de luta, de fé e confiança no trabalho.

Era o final de um ano seco e não adiantava plantar nada, pois “só se ia perder semente...”

Todos repetiam esse refrão. Mas ele não se conformava com aquela pasmaceira de estiagem

prolongada, não podia ficar sem fazer nada, só olhando para um céu sem nuvens e sem promessa de chuvas. Estava para chegar um novo ano... quem sabe não chovia em janeiro, fevereiro ou em março, com as bençãos de São José?

Vislumbrou em sua mente o branco de um algodoal. Seu coração acatou com confiança a

idéia e sua vontade imperiosa entrou em ação: preparou a terra e plantou as sementes de algodão.

As pessoas não acreditavam naquela tentativa, mas Joaquim era um rapaz obstinado.

Entrou o novo ano e houve uma mudança no tempo. Soprou um vento que prometia chuva,

e que caiu no chão como dádiva preciosa para aqueles que acreditaram e plantaram. A chuva não foi muita, porém foi suficiente para segurar o algodão.

O algodoal de Joaquim, naquele ano, não só enfeitou a sombria paisagem sertaneja, como

garantiu comida na mesa e aquisição de sementes para o próximo inverno.

Obrigado Joaquim Valdevino por nos ter ensinado, com sua história de vida, que, frente às

dificuldades, não devemos bloquear nossa fonte de idéias e cruzar os braços:

É PRECISO PLANTAR ALGODÃO!

UMA HOMENAGEM DE GRATIDÃO DOS SEUS FILHOS

Julho/2001

4 comentários:

Íris Pereira de Souza disse...

Bem se ver que O Joaguim Valdevino não só plantou em terras como soube plantar nos corações dos filhos muito amor, sabedoria e conceito do que uma vida honrada.
Emocionante seu relato, minha amiga Stela.
Um abraço
Íris Pereira

Stela disse...

Quero agradecer ao Toinho a postagem desse texto meu. Fiquei emocionada ao ver a foto de papai. Gostei também de um comentário que Toinho fez, falando da bondade de Joaquim Valdevino.
Esses homens das famílias antigas da Ponta da Serra eram todos muito bons, muito honrados e trabalhadores.

Agradeço também as palavras bondosas de Isis.

Abraços para os dois e para opovo da Ponta da Serra.

Stela

Antonio Correia Lima disse...

Amiga Stela, agora adquiri um aparelho MP4, muito prático para gravações de audio, que está me ajudando muito. Pretendo colher alguns depoimentos sobre seu pai para transformá-los em postagem para o nosso blog, como também, para o jornal.
Sei da grande importância dele junto à nossa gente mais humilde , e isso precisa ser registrado e tornado público.
Um forte abraço

Stela disse...

Vixe Toinho que coisa boa!
Mais uma vez muito grata por tudo.
Abraços de
Stela