sexta-feira, 20 de maio de 2011

O POVO FAZ HISTÓRIA - Delúbio Soares (*)


“A elite do Brasil é o seu povo” (Santiago Dantas)

No momento em que o Brasil se reencontra com seu destino de grandeza e vive um dos melhores momentos da nacionalidade, com o resgate de sua auto-estima e a superação de problemas que afligiram nosso povo por séculos, é bom registrar algumas impressões sem o receio de parecer ufanista ou distante da realidade.

Poucos foram os povos que conseguiram realizar transições políticas tão radicais e mudanças sociais tão profundas sem traumas ou conflitos. O brasileiro é um deles. Para muito além do “homem cordial”, identificado pelo talento de um de nossos mais brilhantes intelectuais, Sérgio Buarque de Hollanda, meu companheiro na fundação do Partido dos Trabalhadores, existe, também, um homem cosmopolita e dotado de um humanismo invejável.

Onde povos se perderam em conflitos estéreis e tingiram de sangue suas histórias pátrias, nós nos reencontramos em concertações políticas, eleições democráticas, Assembléias Constituintes, transições pacíficas do autoritarismo para a democracia. Onde países perderam anos ou décadas envoltos em guerras civis, nós fomos construindo o futuro. Tivemos interregnos, é verdade. Purgamos ditaduras, suportamos presidentes sem voto, conhecemos a brutalidade de regimes de exceção. Mas o Brasil, em verdade, nunca saiu menor ou retrocedeu em sua história. Nem sempre por obra de governantes, com as honrosas exceções de praxe (Getúlio em seu governo democrático, JK em seu furacão desenvolvimentista e Lula no comando de uma revolução social e econômica que transformou a face do país), mas por ação do agente principal de nossa história: o brasileiro.

Fic o a me perguntar em que outro recanto do mundo um povo abre os braços com tanto carinho e solidariedade recebe nossos irmãos judeus e árabes, japoneses e espanhóis, italianos e chineses, coreanos e russos, ucranianos e poloneses, e constrói esse país fraterno e pluralista? É raro. E, talvez, como no Brasil, em mais nenhum.

Qual país tem em sua formação racial componentes tão múltiplos, tão nobres, tão belos, onde fatores históricos uniram o colonizador europeu, o índio, o negro, o emigrante, e dessa junção de raças, credos, idiomas, culturas, surgiu um povo no qual os traços mais evidentes são a alegria, o talento, a garra, a bondade e um profundo sentimento de solidariedade e respeito aos seus semelhantes? Se outras riquezas não tivéssemos em nosso território continental e abençoado, essa já nos bastaria para justificar o sucesso que se projeta em nossa vida nacional.

Foi essa força que vem do povo, das raízes de nossa gente, do Brasil profundo, das entranhas de uma Nação que se recusa a não cumprir senão o seu destino de grandeza e protagonismo no concerto das grandes Nações do mundo, que impulsionou o Brasil e o recuperou em menos de sete anos do extraordinário governo do presidente Lula. Não houve mágicas, nem milagres. Um avatar escolhido pelo destino não nos salvou. Foi o Brasil que se salvou a si mesmo, ao buscar em sua formação histórica, na fortaleza de seu povo e na dignidade de sua gente, a solução de seus problemas. O Brasil deixou de pedir licença para ser o grande país que sempre foi, mas que se recusava a assumir perante o mundo a defesa de seus direitos. Recusamo-nos a continuar como país de segunda classe ou republiqueta desprezível. Ao invés de um chanceler tirando os sapatos para ser revistado num aeroporto norte-americano, como no governo de FHC, vimos o presidente dos Estados Unidos celebrando as qualidades pessoais do presidente Lula: “Ele é o cara!”

Somente um povo iluminado poderia operar uma transição entre o autoritarismo político e a democracia plena sem uma gota de sangue. Somente um povo extraordinário conseguiria realizar a proeza de levar um líder como Lula ao poder e dar-lhe a necessária sustentação e apoio para que ele realizasse as reformas profundas no tecido social e econômico de um país que se encontrava a beira do colapso, após três quebras consecutivas, desacreditado perante o mundo e sem auto-estima alguma.

Sinto imenso orgulho do Brasil e dos brasileiros no momento em que nossa economia vive o seu melhor momento e os mercados se abrem para o Brasil. Faz poucos dias o nosso PIB ultrapassou o da Espanha e já somos a oitava economia mundial. Estamos, portanto, a um passo do G7 e poderemos nos sentar entre as maiores potências mundiais para decidir questões fundamentais para a economia, o meio-ambiente, a paz do planeta. Não será nenhum favor, mas o reconhecimento de uma conquista do povo que resolveu assumir o papel que lhe estava destinado faz décadas, talvez séculos.

Esse povo não está olhando para trás. Está olhando para muito além do futuro próximo. Os brasileiros estão vendo algo que parte da elite dirigente, a classe política, a grande imprensa ainda não viu. O povo, por intuição divina ou pelo sofrimento que o dota de imensa clarividência (ou pelos dois), vê mais e vê antes. Por isso, faz a história.

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Nota: a republicação desse artigo, originalmente publicado em agosto de 2010, é a maneira que encontrei de responder as 12.663 mensagens recebidas de todo o Brasil, de companheiros petistas e de brasileiros sem filiação partidária, de muitos amigos pessoais e de milhares de pessoas que jamais me viram, mas todos - sem exceção e generosamente - cumprimentando-me pelo retorno ao Partido dos Trabalhadores. A todos eles minha gratidão e meu respeito.

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Um comentário:

Íris Pereira de Souza disse...

Antonio
acabei de escrever um texto que há muito tinha vontade de escrever, caso queira postar em nosso blog( nem sei se ainda o posso dizer assim) será um prazer.
Um forte abraço.
ìrismar.