sexta-feira, 9 de abril de 2010

090410 - Psicologia no Cotidiano Ψ INTERSEXUAL Ψ Por João César Mousinho De Queiroz.

Na revisão da literatura especializada não apresenta evidências definitivas para apoiar a proposta de manejo, tradicionalmente adotada, que defende a realização da cirurgia precoce com o objetivo de adequar a genitália a uma aparência normal, pode-se argumentar em favor da possibilidade do adiamento da cirurgia corretiva da genitália, considerando a qualidade de vida dos indivíduos em todas as etapas do seu desenvolvimento. Ao estudar o fenômeno da intersexualidade, muito se pode compreender acerca dos múltiplos fatores (que vão desde o micro – genético ao macro – cultura) que levam ao estabelecimento da identidade de gênero. Neste sentido, é importante insistir quanto à premência de se considerar as contribuições dos recentes avanços da Psicologia do Desenvolvimento para a realização de investigações e intervenções na área da intersexualidade. É essencial que o setor da saúde, ainda fortemente marcado pelo modelo médico, introduza a perspectiva biopsicossocial.. Nos casos em que seja possível adiar a cirurgia, essa conduta implicaria em manter a genitália com um aspecto diferenciado daquele dito normal, o que requer um maior comprometimento em esclarecer a situação para a criança. Informações, obviamente adequadas à compreensão da criança, são necessárias para que esta possa situar-se como pertencente a um gênero, mesmo com a aparência genital diferenciada. Vale ressaltar que a intervenção cirúrgica quando realizada precocemente, indiretamente colabora para a desinformação do sujeito, uma vez que, após a sua execução, dificilmente o assunto volta a ser abordado pela família.

Em suma, às mudanças de atitudes exigidas no contexto da conduta clínica da interesexualidade encontram apoio na Bioética, a qual tem como foco central o princípio da autonomia da pessoa sobre seu corpo e sua integridade moral. Do mesmo modo, os princípios da não-maleficência e da beneficência são de interesse evidente nesses casos, tendo em vista a indicação de procedimentos cirúrgicos (como ablação de órgãos) e terapêuticos medicamentosos (como a administração de hormônios para o desenvolvimento de caracteres sexuais). Propor intervenções escalonadas no tempo, em associação com a evolução global do sujeito, permitindo os ajustes necessários, pode constituir um cuidado ético. Ao se cogitar, e eventualmente decidir sobre o adiamento da cirurgia, fornecendo-se orientação especializada, possibilita-se ao indivíduo elaborar o que é melhor para si. Uma vez mais, reconhece-se que, na atualidade, a evolução científica exige o desenvolvimento das interfaces de diferentes áreas do conhecimento. A Psicologia do Desenvolvimento aplicada à saúde pode indicar algumas trilhas alternativas no cuidado ao indivíduo intersexuado.

Um em cada cem nascimentos acontece com heterogeneidade na diferenciação sexual, e num em cada 2.000 nascimentos essa heterogeneidade é tal que levanta dúvidas sobre o gênero da criança. A heterogeneidade a que nos referimos diz respeito ao fato de não existir, numa mesma pessoa/bebe, um alinhamento de todas as características sexuais por um só género, ou seja, não são todas tradicionalmente femininas, nem são todas tradicionalmente masculinas. Que características sexuais são essas? Cariótipo: organização dos cromossomos sexuais; diferença gonádica (ex: ovários, testículos); morfologia genital (ex: lábios, clitóris, pênis; configuração dos órgãos reprodutores internos; características sexuais pubertárias. Hoje em dia sabe-se que lá por se observar uma dessas características não quer dizer que encontremos nessa pessoa todas as outras.

Na medicina, há a diferenciação entre intersexual falso e verdadeiro. A verdadeira intersexualidade (que é uma condição muito rara) é quando os dois órgãos sexuais são igualmente bem desenvolvidos, produzindo hormônios sexuais masculinos e femininos. Já na falsa intersexualidade, um dos órgãos tem maior grau de desenvolvimento sobre o outro, sendo predominante. Estas classificações, no entanto, correspondem a uma definição muito restrita e simplesmente estética da intersexualidade.

Intersexualidade, enquanto trangeneridade uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as pessoas que se autodenominam intersexuais podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais ou assexuais. Enquanto condição de nascença pode ser mantida ou alterada. Cada vez mais pessoas e famílias optam por manter essa condição e não se submeterem aos padrões binários rígidos da sociedade. No entanto, esta afirmação da condição intersexual como mais uma condição sexual normal na nossa sociedade encontra ainda a oposição, nomeadamente de muitos médicos, que tentam convencer as famílias da necessidade de operarem os seus bebés intersexo, sem lhes fornecerem informação completa sobre as vidas intersexuais hoje.

Intersexualidade é um termo utilizado para designar pessoas nascidas com genitália e/ou características sexuais secundárias que fogem dos padrões socialmente determinados para os sexos masculino ou feminino, tendo parcial ou completamente desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando sobre o outro. No entanto, a ambiguidade física das pessoas intersexo pode não se ficar pelo aspecto visual dos genitais. A palavra intersexual é preferível ao termo hermafrodita, já bastante estigmatizado, precisamente porque hermafrodita abarcava apenas a questão dos genitais visíveis. Os intersexuais são tidos como transgéneros. Tema do próximo artigo.

Fontes:OMS (Organização Mundial da Saúde) CID (Classificação Internacional das Doenças). Livros, Artigos, Bancada de Teses.

Não Ao Ato Médico–Sim a Emancipação da Ponta da Serra.

São Paulo /10 Artigo XV – www.sosdrogasealcool.org

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