sábado, 13 de novembro de 2010

O FIM


TERÇA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2010


Falar sobre minha mãe, Josina, que a maioria chamava Jó, tinha mesmo um apelido bem merecido, por ser o diminutivo de Josina e por ter a paciência de Jó. Era uma mulher baixinha media 1.39, por ai, tinha um corpo bonito, cabelos maravilhosos e sedosos e os mantinha sempre bem penteados, era uma mulher muito bonita, das primeiras imagens memória, ela me parecia alta, ( eu pequinina), Os cabelos longos na altura da cintura, esta bem afinada apesar, ter passado por tantas gravidez, era muito vaidosa e não saia do quarto ao acordar sem se arrumar, inclusive não ficava sem batom.

Ao mudar-se para o Crato, foi como ter mudado para o inferno, sofreu todo tipo de mal tratos, mas apesar de ser calma e baixinha, era atrevida e enfrentava seu companheiro, ambos embriagados, pois foi nisto que se tornaram ao irem pra cidade e deixarem o campo, falta de trabalha pra ele e muita facilidade pra farra pra ambos. Assim foi durante alguns anos até que meu irmão mais velho O Adauto na época com seus 20 anos, resolveu voltar de Fortaleza e vir cuidar pelo menos dos irmãos, isto depois que recebeu uma carta de uma vizinha, preocupada com a situação precária que nós as crianças estávamos jogados e abandonados, nesta época eu e João éramos cuidados pelo Auderico, por ser o maior dos três. Com a chegada do Adauto, que não aprovava em nada os modos da mamãe chamou os dois para uma conversa, isto depois de uns murros daqui, pauladas de cá, parecia um filme de bang bang, e eu e meus irmão chorando, gritando, acho melhor mudar pra filme de terror, pois saiu um com a cabeça lascada e o outro com um corte no braço, foram ambos para o hospital. Depois desde dia a coisa melhorou um pouco, meu irmão foi trabalhar na Loja As Pernambucanas, o meu padrasto foi trabalhar na usina, minha mãe teve que se acalmar um pouco por que até ela tinha medo e respeito pelo meu irmão mais velho, é que o rapaz parecia um rei, era falar e todos cumpriam obedeciam, depois de algum tempo fomos morar na rua Tenente Antonio João, eu já com meus sete anos e o João com seis e Auderico com treze anos, era o ajudante da casa tudo ele fazia, buscava água no chafariz lá na ladeira, cuidava de nós pequenos, e estudava. Ele realmente não teve infância, acompanhou muito de perto tudo de mudanças que tivemos que passar.
Finalmente em 1959 aconteceu um milagre, milagre mesmo. A mamãe depois de dois partos de gêmeos mortos ao nascerem, outra gravidez de um menino que morreu aos oito meses de vida este teve até batizado lá na Ponta da Serra recebeu o nome de Valderi Alves Correia, ela não conseguia mais ficar grávida e de repente foi uma surpresa ela de novamente ia ter um filho, isto a deixou animada, pois pensava que o marido mudaria de atitude, fez até promessas: Se nascesse uma menina forte e com saúde, resistente colocaria seu nome de Aparecida e faria lá uns rituais de costumes de católicos. Enfim nasceu a menina, e nasceu junto com ela uma outra mulher, outra Josina, forte, responsável, mãe devotada, nunca mais na vida bebeu qualquer tipo de bebida que contivesse álcool. Neste período, passamos para uma época de família normal. Em 1962, eu com nove anos, fomos morar na rua Vicente leite, número 105, com ótimas vizinhanças, minha mãe foi logo fazendo amizades com todos de perto, ela era uma mulher caseira nem no mercado ia mais, desde que Aparecida nasceu ela não foi mais em nenhum o único dia que ela ia ao centro era para acertar contas com Luiz Manoel da Cantina do Oliveira, onde meu irmão e eu íamos fazer as compras da semana e no final do mês, ela então descia para receber sua pensão deixada pelo finado Manoel Pereira e a vida foi se transformando em uma vida normal. Eu então passei a ser uma menina normal. Mais um benefício trouxe o nascimento da minha irmã: A família Correia que não aceitava minha mãe, começou aproximar-se dela e finalmente podemos nos tornarmos uma família de verdade, com avós, tios, primos, primas, foi quando passei a ir mais vezes ao Juá e à Ponta da Serra.
Meu irmão Adauto casa-se, sai de casa, tudo continua bem.
A mamãe ajuda passar ajudar mais na despesas, quer dar uma vida melhor pra nós, então passa roupas pra fora, depois faz trabalhos de acabamentos para as costureiras Carmelia e Maildes, ganha um dinheirinho a mais e temos mais fartura.
1966, Auderico casa-se também, mas não permanece muito tempo casado, fica conosco.
Adauto vai com a mulher morar em Fortaleza trabalhar na Pernambucanas de lá.
Mudamos para a rua da Varig, tempo bom. Próspero, compram uma casa na Rua Presidente Kennedy. Minha mãe continua uma mãe perfeita, só nunca foi de ficar lambendo a cria, com ela não tinha essa de colo e carinho, mas nos amava muito isto ela tornava visível com cuidados e sempre aconselhando para nosso bem.
1968, Adauto volta de Fortaleza, isto dar sempre mais estabilidade à família, pois é moralista e tipo chefe de tribo.
1969 Adauto resolve partir para São Paulo, o Crato estava sem trabalho para ele, levou a mulher.
1970 Vai embora para São Paulo o Auderico. Mamãe fica muito triste, são os dois filhos que ela mais tinha carinho.
1972 eu caso e vou morar em Assaré.
1973 eles compram casa na rua Antonina do Norte 78, construção inacabada. Meu padrasto é ótimo eletricista, mas bebe tudo que ganha, torna-se um homem gastador, extravagante, e passa a trabalhar sempre embriagado.
1974 nasce minha filha Itassira em Crato. Traz um pouco de calma para o meu padrasto que adora a neta, mas em 1976 meu marido resolve ir embora para o Maranhão, lá vamos nós, para terras estranhas e deixando o Meu padrasto muito abatido com a ida da neta, Torna a beber muito, descuidando da família, mas minha mãe agüenta tudo como uma boa esposa e mãe.
1979, nasce meu filho Roberto na cidade de Zé Doca-Ma. Seis meses depois voltamos para o Crato.
l981, Aparecida engravida e não casa, motivo de grande vergonha para o seu pai, meu padrasto, vende a casa, prepara tudo e 1982 partem para Ribeirão Preto. Pra eles até que a coisa não foi tão difícil, a minha irmã arruma trabalho, mamãe cuida da casa e da neta e meu padrasto vai trabalhar de eletricista em obras. Vivem uma vida intranqüila por causa da bebedeira do Raimundo , porém estão juntos só faltando eu que na época passava por meus apertos também e minhas mudanças.
1984 resolvemos morar também em Ribeirão Preto. Tudo normal, para eles, um filme de terror para mim. Minha mãe fica feliz, tendo os filhos todos juntos, pois o João resolveu ir também comigo.
Um inferno na vida de minha mãe, hora de pagar aqui na terra o que faz aqui. Sofre com os três bêbados: Raimundo, Auderico e João. Torna-se outra vez um inferno, eu assistindo a tudo.
O meu irmão Adauto sempre morou em São Paulo, vinha somente visitar a família.
Em 1986 Aparecida casa-se, sai de casa. a situação piora pra minha mãe, pois vira um inferno de brigas entre o Raimundo e o João. Volta tudo outra vez. João resolve ir morar com Adauto. Eu levo mamãe e Raimundo para morarem comigo em uma casa de fundo, assim eu cuido melhor dos dois.
1988 morre o Raimundo, suicida-se colocando fogo no corpo. Mamãe apaga-se, fica depressiva, mas ainda não é o suficiente, em l990 morre o Auderico por várias doenças causadas pela bebida.
1992, separo-me do Eldenê, ele volta para o Crato eu caso novamente.
Minha mãe resolve viver mais um pouco o que lhe resta de vida, aproveita, vai aos bailes da terceira idade, namora, mas continua firme sem nunca mais ter bebido. Viaja comigo pra vários lugares, vai pra São Paulo visitar o Adauto que separa-se da primeira mulher e casa-se com outra.
1995 mamãe é encontrada morta em sua cama, parecendo que estava dormindo, enfartou. Partiu.
2001 morre o João, teve um avc por conta de tanta bebida, pressão alta.
Restamos para lembrarmos a mamãe a Cida e eu. Que quando nos juntamos só a glorificamos por tudo que passou nesta vida, mas foi mulher de palavra, era forte, cumpriu sua promessa até o fim. Deixou muitas saudades, pois era muito presente em nossas vidas. Não tinha um dia que eu não a visitasse.
Finalmente chega ao fim minha história de mãe, pai, padrasto, pai adotivo
Eu estou aqui relembrando cada um deles e a participação que cada um deles teve em minha vida.
Maria Irismar Pereira de Souza

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