sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Pedra dos Dedos de Deus



No mês de julho, falei ao Antonio, meu irmão e amigo da Ponta da Serra, que eu tinha uma lembrança muito forte de uma pedra que ficava por traz da casa do tio Luiz Correia, sendo do lado esquerdo da estrada de quem vinha do Crato em direção à Ponta da Serra, ficando enfrente a casa do pai Correia e da mãe Fina, onde eu ficava maior parte do meus tempo de criança.

A rotina em casa deles, dos meus avós, era um tanto dura, acordávamos muito cedo e depois de tomarmos café, cada uma tinha uma tarefa a cumprir, mesmo eu que era visita, não fazia diferença, mas eu adorava isto, pois era um ponto de referência de aceitação, sei que todos gostavam de mim, de um modo especial, não sei explicar o motivo, mas eu era muito boa e parecia um anjo, verdade! Todos diziam isto. Pelo menos até os meus treze anos fui considerada assim. Mas voltando às tarefas, geralmente, minha tia Vicência me protegia muito e me dava tarefas mais leves, como dar comida aos porcos, varrer ao redor da casa, levar o cavalo pra amarrar no pasto, isto eu adorava fazer, pois sempre fugia e ia até a malhada ver o Dalcir, e ao voltar banhava o corisco e o deixava no pasto.

Tinha também uma tarefa que eu adorava e sempre ganhava das meninas, era ir com tia Vicência pra cacimba lavar a roupa de toda família, era adorável! Eu amava fazer isto, lá tinha um tanque grande e ao redor muitas plantas rasteiras de nome ortelã e agrião do mato, lá colocávamos as roupas pra quarar, ficar brancas, desencardidas, e minha função era molhar estas roupas pra não secarem, era muito legal, puxava a água em um balde da cacimba e ia enchendo o tanque que não podia ficar vazio. Lá pras 10 horas a Fátima e Francisquinha vinham trazer o almoço pra nós, era muito bom, lembro que era arroz, feijão mexido com cuscuz e torresmo e como sobremesa vinha pedaços de batida ( uma espécie de rapadura mole), ai as meninas podiam ficar conosco, então fazíamos a farra, tomávamos banho no taque, nos molhávamos umas as outras e as vezes dava briga e tia Vicência puxava nossas orelhas e mandava elas embora, ficava o recolher das roupas só pra mim, mas era muito.

À noite ,depois do jantar, íamos rezar o terço, depois sentávamos na varanda, todos os netos, um tanto que nem lembro o nome de todos, mas lembro que eram os filhos do tio Jorge, Luis, Onofre, Areno e alguns da vizinhança e contávamos historia de assombração. Ui! Depois pra dormir era uma confusão e novas broncas.

Lá atrás da casa do tio Luis tinha plantação de algodão e meu pai Correia pagava pra nós fazermos a colheita. Está plantação ficava no mesmo rumo da pedra dos dedos de Deus e os mais velhos proibiam os mais novos irem lá porque diziam ter muitas cobras e por ser perigoso demais. E eu, por natureza, era a mais obediente de todas, porém, um dia fiquei muito chateada com minha prima Marlucia que sabia o segredo da minha mãe de ter traído o marido dela o meu pai adotivo e com raiva de mim falou que eu era filha de uma rapariga, na época isto era uma coisa de deixar qualquer um traumatizado, então com muito desgosto larguei o bornal de algodão e fui escondido lá pra pedra, nem tive medo, chegando lá perdi toda noção do horário, chorei por horas, falei com Deus tudo que eu sentia em meu coração de menina, lembro que até perguntei pra ele se eu estava sendo castigada por ter sido estuprada ao oito anos e se tudo que acontecia de ruim era por isto e pedi-lhe que me tirasse do mundo ou então me desse uma resposta não como aquela que papai Noel me deu não levando meu presente no natal de 1959, pois o rapaz falou-me que se eu contasse papai Noel não traria minha boneca e ele não trouxe, entendi que o erro foi meu, enfim falei bravo com Deus, nem tive medo. Fiquei lá tão pequena diante daquela pedra enorme e misteriosa. Sentei-me e adormeci, acordei com um alvoroço de vozes, nem entendia o que diziam. Fui puxada pelo braço e examinada por todos se estava tudo bem. Naquele dia tive em vez de castigo muito carinho e atenção.

A pedra pode até não ter os dedos de Deus, mas que Ele me ouviu eu tenho certeza, pois desde este dia que tudo em minha vida mudou , não exatamente para uma vida maravilhosa, mas para maior afeto, carinho, compreensão, e eu passei a sorrir mais e chorar menos por bobagens.

Quero agradecer ao Antonio Correia Lima esta atenção em mandar-me a foto da pedra que me mostrou que Deus nos responde sim, só temos que perguntar e esperar a resposta.

Existem lá, naquela região outras pedras lindas e conhecidas, espero que um dia projetem para se tornarem um lugar turístico.

Iris Reflete

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