segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Apanhando e aprendendo a viver


Quando eu era pequena(ainda sou) criança, minha mãe nos batia com uma tira de borracha dura e cumprida.

Meu irmão João e eu estudávamos no grupo escolar Francisco José de Brito,nossa diferença de idade era de um ano e oito meses, mas mamãe passava pra mim a responsabilidade de olhar e cuidar dele, principalmente para ele não fugir da escola, mas de vez enquanto acontecia de não dar pra cuidar e impedir dele fugir. Um dia ao terminar a aula, fui como sempre fazia direto na porta esperar o danado, todos passaram, menos o João. A Usina apitou onze horas, nada desse menino aparecer, resolvi ir descendo e perguntando a um ou outro colega dele. Encontrei o Elízio que andavam sempre juntos, fiz a mesma pergunta e a resposta foi um choque pra mim, já sentia até as chicotadas, enfim fui até a beira do canal enfrente ao mercado e o encontro todo jururu e cabisbaixo, estavam de alguns meninos jogando bila(bola de gude) e ele perdera todas, fiquei com raiva dele, mas não queria apanhar em vão, chamei o menino, um tal bem metidinho que era um dos bons, já não simpatizava com ele, era da Vila silvestre e estudava no colégio Diocesano foi você que ganhou todas do meu irmão? Ele olhou-me desafiadoramente e respondeu: Foi e aí que jogar e recuperar? Na hora entreguei minha bolsa pro meu irmão segurar, falei jogo uma e se eu ganhar você devolve todas e se eu perder dou todas que eu tenho, mostrei um saquinho de tecido que nós jogadores tínhamos pra guardar as preciosas bilas. Ele nem pensou já foi limpando os buracos e começamos a jogar, os meninos ficaram de perto vendo nossa disputa e torcendo, dando opinião, assoviando. Terminamos o jogo, eu ganhei é claro, naquela redondeza não tinha menina que jogasse igual a mim e só alguns meninos eram tão bons quanto eu. Meu irmão era um pato.Peguei as bolinhas coloquei-as no borná e quando estava pra ir embora o tal de Luizinho disse com muita raiva você é menina macho, por isto ganhou, eu só vi as bolsas do meu irmão e a minha sendo jogadas pra cima de mim e ele se atracando com o perdedor, foram chutes, socos, até rolaram pelo chão, fiquei atordoada com a reação do João, pois ele mole e sempre apanhava e estava em desvantagem quando eu resolvi apartar a briga puxando meu irmão e num impulso ligeiro o Luiz pegou na minha blusa e arrebentou todos os botões, minha sorte era que ( mesmo não tem seios) usava uma combinação, era uma espécie de vestido de tecido branco e na barra um bico bordado que era pra enfeitar. A farda era saia azul de pregas e a blusa branca de tecido aberta na frente com botões. Criou-se silencio naquela hora que foi maior meu constrangimento e tão de repente foi sumindo todos expectadores, inclusive o Luizinho saiu correndo.
Olhei pro meu irmão estava totalmente sujo, quando eu ia reclamar algo, ouvi o apito da usina avisando 13:00 horas, meu Deus do céu! Gritei disparando na frente e meu irmão atrás falando tantas coisas, mas eu não entendia era nada, só sentia era as dores que eu sentir ao chegar em casa. Subimos a rua dos Cariris num fôlego só, entramos pelo quintal de Totonho Norões, demos a volta pela cacimba (poço)e fomos direto pela porta da cozinha onde já estava minha mãe com a borracha na mão e calmamente perguntou quem vai apanhar primeiro? Não teve conversa mandou-me tirar a saia pra não sujar ou rasgar era esta a preocupação e foi agarrando meu braço e na terceira chibatada, o João gritou chega mãe, a culpa é minha, bate mais nela não, eu que nunca chorei ao apanhar, de dentes trincados, dei uma olhada pra ele que se derretia em lágrimas fiquei morrendo de dor. Ela soltou-me e foi logo dizendo tire as calças e ele obedeceu ficando só de calção era o que ele usavam na época. Ai começou as surra e o sermão, acho que as vezes era o pior, ficar ouvindo as mesmas coisas, depois de umas seis chibatadas mandou ele ir ajoelhar lá no lugar de sempre e eu o acompanhei pra também me ajoelhar, mas ela disse: Você não vai ajoelhar, vai lavar essa roupa e nada de deixar manchar. Olhei pra ela com toda coragem que me restava e pedi: Deixe eu tomar um banho primeiro? Foi um alívio o sim dela. Entrei no banheiro que era do lado de fora da casa e tinha um tambor cheio de água, fiz exatamente como todas as vezes que eu precisava chorar. Tirei toda a roupa, pequei um balde com agua, sentei-me no chão e fui jogando a agua no cabeça, aí sim desabei a chorar.
Na verdade eu tomava banho porque eu achava que a agua ia tirar o ardor dos vincos nas coxas e além disto eu que a agua lavava minha vergonha. Sempre foi assim, até hoje não choro nunca e quando preciso chorar que estou em minha casa, entro no banheiro abro a torneira, sento-me no chão e choro...e as lágrimas vão junto com a agua para o esgoto do esgoto para o rio e do rio para o mar...
Sabem mesmo depois da surra e dos castigos nenhum de nós filhos da Josina ficávamos com raiva ou mágoa dela. Depois contávamos todo o ocorrido e até se tornava engraçado
Íris Reflete

2 comentários:

Arcoiris No Horizonte disse...

Boa resposta desta vez gostei.
Apesar de ninguém comentar no nosso blog, eu me sinto segura e importante, afinal foi aqui que iniciei e foi você que me incentivou.
Sabe Antonio se eu perder esse incentivo, acabo com todo este sonho de escrever.
Tem outra postagem que gostaria que postasse, é a da viajem e as queimadas que presenciei.
Você pode postar uma diferente assim por semana.
O meu mais grato abraço
Íris Pereira

Arcoiris No Horizonte disse...

Não acredito no que comentou no meu blog: Ainda não tinha lido por causa do titulo, quanto preconceito! Isto sim é verdadeiro pré conceito, julgou ante de ler...Fico imaginando o que não pré julga da minha pessoa.
Que pena!!!!!!!!!!!!!!
De você me conhecesse pessoalmente iria ver que o sou totalmente diferente da escritora de textos sensuais. Sou tão humana...
Maria Írismar Pereira de Souza