(*) Delúbio Soares 
                                   Desde  que o Brasil assumiu a vanguarda da luta contra a fome, a desnutrição e  a exclusão social, ainda nos anos 40, quando da publicação da “Geografia da fome”  pelo genial Josué de Castro, dois foram os marcos nessa batalha  hercúlea pela dignidade dos que nada tem e muito necessitam: o  lançamento do programa “Fome Zero” e o retumbante sucesso por ele  alcançado.
                                                                    O  Brasil não podia ser rico com milhões de filhos seus imersos na mais  absoluta pobreza, passando fome, órfãos dos poderes públicos, esquecidos  pela sociedade, ignorados pelo país opulento, oficial e vitorioso, das  super-safras e dos superávits. Mas, infelizmente, era o que se sucedia.
                                   A  sensibilidade social e a visão humanista do presidente Lula mobilizaram  o Brasil e os brasileiros para o combate à chaga aberta em nosso vasto  território. E foi através do trabalho de brasileiros idealistas e  competentes, espalhados por todos os rincões, nas mais diferentes  esferas do poder público, com o apoio da sociedade civil e a mobilização  popular, que o Brasil atendeu ao chamado de Lula e enfrentou a  vergonhosa situação de fome num país que já era o celeiro do mundo. José  Graziano, meu companheiro petista, técnico competente e homem de  reconhecidas preocupações sociais, estava à frente de esforço nacional  que se converteria num êxito mundialmente reconhecido e numa autêntica  epopéia que viria a transformar a face de nosso país e sua sociedade.
                                                    Filho  de um dos maiores brasileiros que conhecí, José Gomes da Silva, que foi  nossa maior autoridade em reforma agrária e cuja generosidade humana e a  crença em nosso país não conheceram limites, Graziano herdou do pai a  vocação para servir ao Brasil e defender seus ideais. Deu o melhor de  suas forças auxiliando o presidente Lula e todos os que com ele fizeram o  excepcional trabalho do “Fome Zero”, e agora nos orgulha ao ser eleito  diretor-geral da FAO, o organismo das Nações Unidas para agricultura e  alimentação. Trata-se de fato histórico e de extrema relevância para o  Brasil e os brasileiros.
                                                    Graziano  venceu renhida disputa com um concorrente respeitado, o ex-chanceler  espanhol Miguel Angel Moratinos. Mas os países mais carentes, aqueles  onde a fome ainda castiga milhões de seres humanos, as Nações que  conhecem os flagelos da desnutrição, da mortalidade infantil e de toda  sorte de carências, optaram pelo nome do brasileiro justamente por sua  identificação com o trabalho que desenvolveu no governo Lula e esperam  que a FAO, sob seu comando, faça ainda mais do que vem fazendo na luta  contra a fome e a exclusão social de centenas de milhões de irmãos  nossos pelo mundo afora. A vitória de Graziano é um fato histórico. É a  vitória da esperança em um mundo sem fome, um mundo melhor e mais justo.
                                                    Enganam-se  os que pensam que o combate à miséria e as políticas que redundam em  profundas mudanças na estrutura social, como ocorreu no Brasil com a  chegada de mais de 30 milhões de cidadãos à classe média, são  assistencialistas ou eleitoreiros. As críticas recebidas pelo presidente  Lula, seu governo, o PT e os partidos que formam a base de sustentação  do governo da presidenta Dilma Rousseff,  ou trazem o vezo da arrogância  elitista e do preconceito social, ou são, apenas e tão somente, de pura  e deplorável má-fé. As conquistas da sociedade brasileira foram  evidentes com o “Fome Zero” sob a égide do governo Lula, e os avanços já  no governo Dilma, com a considerável ampliação de recursos e esforços, já se fazem sentir e nos dão ainda  mais ânimo para continuar uma luta que não conhece trégua nem tem  quartel.
                                                    Ao  mesmo tempo em que José Graziano e um punhado de brasileiros tocavam  adiante a luta contra a fome, o governo Lula avançava em outras frentes:  na recuperação da indústria naval, no incentivo à produção agrícola, na  geração de empregos, na abertura de oportunidades a todos os  brasileiros, na democratização do ensino, na oferta de crédito a todas  as camadas da sociedade, no mais ambicioso e bem-sucedido programa  habitacional já visto em nosso país. O Brasil conjugou a luta contra o  estigma da fome com um conjunto de iniciativas que propiciaram a mudança  de um país destroçado na década dos 90 para a Nação confiante e  vitoriosa dos dias de hoje.
                                                    A  missão de Graziano na FAO é dura. Caberá a ele enfrentar uma desgraça  medieval em pleno século XXI. Ele sabe que nos anos mais infames da  história brasileira, quando o neoliberalismo dos tucanos arrasou nossa  economia, quatro em cada dez brasileiros viviam abaixo da linha da  pobreza, passavam fome, eram miseráveis. Reduzimos 75% dessa marca  vergonhosa. Hoje, resta um em cada dez brasileiros em tal situação. É  pouco? Não, é demais! Somente quando todos os brasileiros comerem,  obtiverem condições dignas de sobrevivência e a fome for apenas uma  recordação tristonha de um passado longínquo, aí, sim, nós,  descansaremos.
                                                    José  Graziano continuará a luta do inesquecível Josué de Castro, que na FAO  lançou a semente generosa de um planeta sem fome, e tornou-se um dos  brasileiros mais queridos e respeitados em todo mundo. Levará aos cinco  continentes o experimento vitorioso do governo Lula, que recuperou a  dignidade e resgatou a cidadania de dezenas de milhões de cidadãos que  não comiam, não eram respeitados pelos governos, eram tratados como  massa sem alma.
                                                    Boa sorte, Graziano! Não lhe faltam nem competência, nem coragem.
                                   (*) Delúbio Soares é professor
                 
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