Noite de trovões e relâmpagos
e chuva farta.
Manhã inundada de luz
e cheia no rio Carás
terreiros inundados com poças d’ água
ou então, nas margens dos caminhos,
riachinhos que corriam entre pedras
e iam do terreiro da nossa casa ao terreiro da casa de vovô Valdevino
Eram nossos pequenos rios pessoais.
O dia ficava tão mais bonito depois que a chuva lavava tudo:
as flores, as pedras, o telhado, a calçado, o terreiro.
Existia outra luminosidade no ar
refletindo no chão, no espaço, nas árvores, nas almas das pessoas.
O cheiro da chuva quando já se foi
é diferente do cheiro que traz na chegada
que é um cheiro arrebatador:
a alegria, a festa, o alvoroço e, tantas vezes,
a impetuosidade com que chega tem cheiro
de que veio para um grande encontro de amor com a terra.
Desaguar nela, molhar, fertilizar, acordar seus minérios
aguando seus vulcões.
Ficávamos no alpendre da casa
olhando a chuva cair
olhando a chuva abençoar a terra
na sua partida
deixando os terreiros os caminhos as plantações
os rios as árvores os tabuleiros os animais lavados
e nossas almas também lavadas.
O caminho para os banhos no rio
por entre os arrozais
caminhos de poços d’ água
caminhos de lama
lagartas grudavam nas nossas roupas
minha irmã gritava apavorada
as outras riam e corriam
para o banho de rio.
Desnudas, despidas
de medo e pudor
mergulhadas nos rio
pura festa. Entrega.
Os muricis
os oitizeiros
os maris
as unhas de gato cobriam o leito do rio.
Do alto o sol se infiltrava por entre os galhos
curioso
espiando nossa nudez menina.
NOTA: A imagem acima trata-se de “uma foto de uma pintura que Antônio Augusto (meu irmão) fez a partir de uma foto (em preto e branco) da nossa casa (a casa de Joaquim Valdevino), que ficava no local onde hoje é o Clube Serravento” ( Stela)
2 comentários:
Por falta de atenção, minha, o arquivo do poema foi incompleto. Falta o finalzinho, que aqui vai:
Desnudas, despidas
de medo e pudor
mergulhadas nos rio
pura festa. Entrega.
Os muricis
os oitizeiros
os maris
as unhas de gato cobriam o leito do rio.
Do alto o sol se infiltrava por entre os galhos
curioso
espiando nossa nudez menina.
...e eu aqui a emocionar-me como alguém descreve com tanta realidade fatos assim, sei que são tão realistas por ter vivido iguais situações, alegrias, brincadeiras, viver,viver,viver...
Como fomos criadas diferentes das nossas crianças atuais. Mas cada um tem suas vantagens. Nós tivemos as nossas.
Beijo nesse coração e nessa cabeça de ouro
Sua fã
Íris Pereira
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