segunda-feira, 6 de abril de 2009

SÔNIA, VOCÊ É UMA "CARA"

Esse texto foi escrito como agredecimento à turma História-URCA 2005.1 que, carinhosamente, homenageou-me em sua colação. Agradeço-os de coração.

Por uma história humana
Sônia Meneses


A história sempre me emocionou e despertou em mim todas as sensações, que nós podemos sentir: indignação, raiva, tristeza, prazer, alegria, amor. Além de todos os espaços nos quais a história se desenrola – dos bancos das praças aos campos de batalha – penso que é dentro de nós que ela ganha as cores mais vivas, principalmente quando somos capazes de olhar para nosso tempo e pensar outros com sensibilidade e humanidade; afinal, tentamos falar de homens e mulheres que um dia viveram como nós.
Mas talvez, há que se perguntar: o que é ser historiador em nossos dias? Qual o nosso papel social? Ao longo dos quatro anos que passamos na universidade tomamo-nos aptos em falar em eventos, conceitos, sistemas políticos, culturas, sociedades, enfim, tornamo-nos especialistas em história. Mas poucas vezes essa pergunta talvez realmente se apresente com franqueza a nós. O que é ser historiador? Não posso crer, sermos apenas especialistas sobre o passado, ou profissionais habilitados a aprisionar o tempo em nossas narrativas.
Hoje, não poderia deixar de citar um autor que creio, todos vocês conhecem. Foi com ele que começamos nos primeiros dias a nossa disciplina de introdução e penso ser uma boa lembrança nesse momento em que vocês concluem essa etapa. Marc Bloch, pouco antes de morrer, ao escrever na prisão as anotações que se tornaram o clássico livro, Apologia à História ou ofício do historiador, perguntava-se, caso ele, historiador, poderia realmente ter compreendido o significado de uma guerra, de uma derrota ou de uma vitória, se o homem, cidadão francês e pai – não estivesse vivendo aquele momento.
Quando li esse livro ainda na graduação, não pude deixar de tentar imaginar seu autor sozinho em uma cela fria, perdido entre pensamentos e papéis avulsos. Perguntava-me porque um homem em seus últimos dias de vida se dedicava a pensar sobre a história.
Hoje, sei que Bloch estava falando também de si, de suas experiências, de seu tempo, mas tentava falar para nós, como que a escrever cartas para o futuro, não por acaso começa seu livro pela pergunta do filho a questionar: o que é história? Talvez quisesse nos dizer ainda, que para sermos historiadores não podemos perder a dimensão de humanidade do nosso próprio ofício.
Suas palavras sempre me inspiraram a pensar em uma história que desperte emoções, que possa incomodar; causar embaraços; uma história que não seja somente a descrição apaziguada do tempo, ou que naturalize pessoas e acontecimentos como meros objetos de nossas pesquisas.
Desejo que hoje, vocês saiam daqui, menos especialistas e mais humanos com o que aprenderem e viveram nas salas de aula, nos corredores, nas amizades, nos namoros dos intervalos, nas cansativas viagens de ônibus. Não façamos uma história desbotada. Levemos para o nosso ofício a mesma emoção das relações que aqui desenvolvemos pois é disso que ele precisa: das cores vivas que cada um de nós carrega. Das alegrias, surpresas, ideais, sonhos e até das tristezas, porque essas também nos humanizam. Da força de superação que vi em muitos de vocês para continuar o curso, da disposição de alguns de voltar e enfrentar novamente a sala de aula, quando a vida já os havia feito professores há muito tempo.
Precisamos de uma história que comova, que faça palpitar o coração, tal qual os enamorados na descoberta da primeira paixão; que faça com que os futuros alunos se mexam em suas cadeiras com o que possam ouvir, que se sintam também desafiados a falar, pensar e produzir, que possamos despertar neles a ânsia de mudança e, sobretudo, a esperança, uma história, enfim, que não tenha vergonha do seu quinhão poesia e imaginação. Uma história humana.
Gostaria de agradecer a todos vocês o carinho que sempre tiveram comigo. Estejam certos que a recíproca é verdadeira. Lamento não poder estar nesse momento com você, mas tenho certeza que a história ainda irá cruzar nossos caminhos muitas outras vezes. Um forte abraço a todo e muito sucesso!
Sônia.
Niterói, 30 de março de 2009.

NOTA: Sônia é professora de História da URCA ,que se encontra no Rio de Janeiro fazendo seu Doutorado.

EXTRAIDO DO blog MEDIAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: História, Mídia e Literatura
http://mediacoescontemporaneas.blogspot.com



2 comentários:

Sônia Meneses disse...

Poxa, Antônio, mais uma vez muito obrigada pelo carinho!
Sucesso pra todos vcs e espero reencontrá-los em breve. Beijos!

Antonio Alves de Morais disse...

Antonio

Leia o Texto "Legitimo ou Falso" do Blog do Sanharol.