Delúbio Soares (*)
Sempre tive o maior respeito pela crença religiosa professada por qualquer pessoa. A religião, como a ideologia, é escolha que obedece ao coração e aos valores de cada um. Porém, não acredito numa existência sem fé. Nem levo fé numa vida sem Deus. Nos piores momentos, há uma força que nos conforta ou nos estimula, que nos apascenta o espírito inconformado ou nos incendeia para a luta conta a injustiça.
Seja Cristo, Jeová ou Buda, responda por uma miríade de denominações e tenha milhões de templos planeta afora levantados em seu louvor, é Nele que crêem os que – como eu – celebram sua imagem refletida nos avanços da ciência, na fraternidade entre os homens, no sorriso de uma criança, na mãe que amamenta, no professor que educa, no médico que cura, no amigo que é solidário, no operário que produz, no lavrador que semeia, nas Nações que celebram a paz.
A Páscoa adquire singular importância por seu simbolismo. Para muito além dos singelos ovos de chocolate e do extenso feriado, ela tem significado histórico comovedor. Para os cristãos, a Páscoa é a ressurreição de Jesus Cristo após sua crucificação e morte. Para os Judeus, é a celebração da fuga do Egito.
Páscoa é renascimento e recomeço. Existe em seu bojo a mensagem de que é necessário continuar seguindo adiante, sempre em frente, aceitando os desafios da vida não como desgraça ou conspiração, mas como desafios a serem vencidos com a coragem com que os cristãos se reuniam nas catacumbas, desafiando os romanos e celebrando sua fé.
Páscoa é reencontro, reconstrução. Ela nos estimula a sonhar sonhos ainda mais generosos, de um país ainda melhor, mais desenvolvido, mais solidário, com mais irmãos retirados da pobreza e agregados à classe média, como o foram mais de 30 milhões nos últimos oito anos. Isso nos lembra, de certa forma, a belíssima história dos judeus, no “Pessach”, a “Passagem”, ao deixarem a escravidão no Egito e atravessarem o deserto e o Mar Vermelho em busca da terra prometida.
A Páscoa, na região do mediterrâneo, para as sociedades mais antigas, também simbolizava a passagem do rigoroso inverno europeu para a primavera, com a primeira floração das árvores, com os bosques que se coloriam depois de muitos meses alquebrados entre o branco das nevascas e um cinza triste e desesperançoso.
E para um país que se reencontrou consigo mesmo? E para nós que deixamos para trás séculos de pobreza e de dificuldades? O que significa essa data?
O Brasil vive hoje uma Páscoa permanente. Ressuscitamos depois de décadas de descaso social. Lançamos as bases para que a potência econômica que adquiriu a admiração do mundo possa tornar-se, também, uma potência social, com uma fortíssima classe média, como já preconizou a presidenta Dilma Rousseff. Há no governo petista, mercê do sucesso dos dois mandatos do Estadista Lula, um compromisso inarredável com a consolidação de um estado social onde impere uma democracia de oportunidades, baseada no pleno emprego, no acesso ao crédito, em programas sociais efetivos na área da habitação e da educação, dentre outras iniciativas que mudaram a vida de dezenas de milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros.
Há uma luta permanente para se libertar nosso povo dos poucos, pouquíssimos, grilhões que ainda o prendem ao passado e ao atraso. É uma luta de vida contra a morte, do amor contra o ódio, da solidariedade contra a mesquinhez, do progresso contra o atraso. É uma luta que se trava a cada dia, com a mesma coragem daqueles cristãos que professavam sua fé nas catacumbas. É uma passagem, um “Pessach”, tão doloroso e tão belo quanto o dos nossos irmãos judeus deserto afora em busca da liberdade depois de deixarem a escravidão no Egito.
Como eles, que escreveram páginas históricas, os brasileiros vencem a cada dia novos desafios rumo a um futuro grandioso. É a Páscoa de um grande e notável povo.
(*) Delúbio Soares é professor.
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