segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Escravidão no Brasil, no Ceará e em Ponta da Serra. Por Antonio Correia Lima - Toinho


Entende - se que a Escravidão é um fenômeno por demais extenso e diverso.  É um tipo de relação social e de trabalho que existe desde a antiguidade, pois, se observa que   Já na Babilônia, com  a existência do Código de Hamurabi,  o mesmo  propunha um conjunto de leis escritas para essa civilização, que estabeleciam a relação entre os escravos e seus senhores.
Nesse sentido há de convir que  a Escravidão não se restringe aos africanos, pois, registros demonstram a sua existência entre os babilônicos, egípcios, assírios, hebreus, gregos e romanos.
Diz-se que  a   Escravidão  e o Trabalho escravo são duas realidade históricas necessariamente interdependentes. A primeira é a despersonalização e a privação da liberdade de uma pessoa em proveito de outrem. A segunda é a exploração da utilidade ou da capacidade produtiva do escravo, considerado como objeto particular de um senhor.
A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
No Brasil, necessidade de força de trabalho foi a primeira causa da introdução do escravismo como sistema criador de mão de obra, tendo se iniciado nos primórdios do século XVI, quando colonos portugueses passam  a escravizar os índios,  porém a  reação contrária da Igreja dificultou esta prática. Daí os colonos passaram a trazer  os negros de  suas colônias na África e para trabalharem nos engenhos de açúcar da região Nordeste.  
Vale salientar que a maioria desses escravos recebia péssimo tratamento. Eram mal alimentados  e dormiam na senzala (espécie de galpão úmido e escuro) e recebiam castigos físicos, e eram vendidos como se fossem mercadorias.
A esses negros não lhe eram dado o direito de cultuarem sua religião e nem seguir sua cultura, mas mesmo assim, muitos praticavam a religião de forma silenciosa.
 Diante dessa situação constrangedora e humilhante   muitos escravos passaram a se organizar   e lutarem  contra essa situação, e aí surgem os mais diversos movimentos  e revoltas seguidas de fugas  em muitas fazendas, formando quilombos, onde podiam viver de acordo com sua cultura.
Deve-se , também,  destacar  a ocorrência da  escravidão indígena no Brasil , que foi   iniciada através do aprisionamento de nativos pelos colonizadores. Os colonizadores forçavam os
índios a trabalhar na lavoura, na extração de recursos naturais e em atividades domésticas.
A escravidão indígena não beneficiava em grande escala a metrópole portuguesa, mas  somente em  nível local aos colonizadores, sendo esse, também,    um dos fatores para a implantação da escravidão do africano no Brasil.
Aí se seguiram os movimentos abolicionista  com as leis 1850 - Lei Eusébio de Queirós, que aboliu o tráfico de escravos provenientes da África.
1871 - Lei do Ventre Livre, que teoricamente libertava os filhos de mães escravas, mas com dispositivos que, na prática, permitiam que o filho de uma escrava também trabalhasse como escravo até atingir a maioridade.
1885 - Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos maiores de 60 anos.
1888 - Lei Áurea, que aboliu definitivamente a escravidão.
Vale dizer que o Ceará se antecipou às  demais províncias , sendo a primeira do Brasil a abolir a escravidão, em 25 de março de 1884. 
  A ESCRAVIDÃO NO CEARÁ
Segundo João Brígido, em sua “Efemérides do Ceará”, de acordo com registros do Inventário do Capitão João Mendes  Lobato, nos idos de 1717, no Ceará já existiam escravos africanos.
A historiografia regional nos diz que  que não foram poucos os senhores  nos sertões nordestinos  que contaram com a presença  deste tipo  de cativo no cotidiano de suas vidas, sendo fato pertencente a História heroica dos sertões do alto Jaguaribe, as lutas sangrentas travadas entre as famílias dos Montes e Fetosas, que tinha como auxiliar grupos  numerosos de  índios escravizados servindo de capangas.
Contrariando o que foi norma geral no trato de escravos no Brasil, na região que compreende hoje os sítios Palmeirinha  e Malhada, no Distrito de Ponta da Serra – Crato – CE, a oralidade e os documentos eclesiásticos nos relatam uma história, um pouco diferenciada.
Em conversa  com o Sr, Bitonho  de Brito, ainda em 2012, ele confirma o que já era de domínio público, que realmente, o seu avô Antonio de Brito Correia foi dono de escravo em sua propriedade no sítio Palmeirinha s dos Brito.
Que a dita propriedade era dotada de Engenho e Casa de Farinha mantidos com o trabalho escravo.  Que seu avô tinha um trato  diferenciado com seus escravos a ponto dos mesmos sentarem à mesa nas horas de refeições.  Disse também que o casarão ainda hoje em pé foi construído com o trabalho escravo, e que toda a madeira  da construção foi extraída da própria terra através dos escravos. Ele  também assegurou que ainda hoje na região existem descendentes desses escravos, e que não sabe enumerar quantos eram.
Em pesquisa nos livros eclesiásticos da Matriz do Crato,  referentes ao século XIX, sob a guarda do DHDPG-  Departamento Histórico Diocesano Padre Gomes, como também, dos Inventários  da Freguesia do Crato de igual período,  que se encontram no CEDOCC – Centro de Documentação do Cariri – URCA – Crato, constatou-se que além do Sr. Antonio de Brito Correia, foram também donos de escravos, na mesma região da Malhada, o seu irmão Major Eufrásio Alves de Brito e seus tios  Manuel Antonio de Brito e Joaquim de Brito Correia,  conforme transcrições a seguir.


Alguns documentos transcritos parcialmente:

01 – Casamento  religioso  do escravo  Antonio com a liberta Bárbara Maria da Conceição, no dia 14.07.1874, na Matriz do Crato. Proprietário Manuel Antonio de Brito – DHDPG 4129093 01719;
02 – Batismo de João , filho  natural de Herculana,  escravos  de Antonio de Brito Correia nascido em 10.05.1861 - – DHDPG 4129081 03151;
03 – Batismo de João, escravo de Joaquim de Brito Correia, nascido em  1832 - – DHDPG 4129083 ;
04 –  Batismo de Martins,   escravo de Antonio de Brito Correia , nascido em 30.01.1853 - – DHDPG 4129081 0649;
04 – JOÃO,   escravo de  Eufrásio Alves de Brito, nascido em 06.08.1870 - – DHDPG 4129081 01761.

Transcrições parciais de Inventários:
RELAÇÃO DE  ESCRAVOS  PERTENCENTES A ALGUNS PROPRIETÁRIOS DE TERRAS DA REGIÃO DE PONTA DA SERRA , EM CRATO CE, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX.PESQUISA; ANTONIO CORREIA LIMA – GRADUADO EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE  REGIONAL DO CARIRI – URCA - 2008
I - RELAÇÃO DE ESRAVOS PERTENCENTES AO CASAL  ANTONIO DE BRITO CORREIA  E MARIA ANACLETA DE BRITO, FALECIDA EM 02 DE MARÇO DE 1876, DE ACORDO COM SEU INVENTÁRIO DATADO DO MESMO ANO. Eram proprietários  do sítio Palmeirinha.
01 – Pedro, mulato, 28 anos, solteiro, matriculado, avaliado por quinhentos mil réis
 – 500:000;
02 – Eugênio, cabra, dezenove anos,  solteiro,  matriculado, avaliado por oitocentos réis – 800:000;
03 – Manuel, cabra,  dezesseis anos, solteiro, avaliado por setecentos réis   -700:000;
04 – João, cabra,  quinze anos, solteiro, matriculado, avaliado por  seiscentos reis – 600:000;
05 – Raquel, cabra,  treze anos, , solteira, matriculada, avaliada por  quinhentos  réis
  - 5000:000;
06 – Joaquim, cabra, onse anos, matriculado avaliado por quinhentos  réis
  - 5000:000;
07 – Maria, cabra,  dez anos.  Matriculado Avaliada por quatrocentos réis
 – 400:000;
08 – Maurício, cabra,  oito anos, matriculado, avaliado  por  trezentos e cinqüenta réis – 350:000;
09 – Luis, cabra, sete anos, matriculado, avaliado por  trezentos réis – 3000:000;
10 – Vital,  cabra,  seis anos matriculado, avaliado por duzentos réis- 200:000.

RELAÇÃO DE ESCRAVOS PERTENCENTES AO CASAL  MANUEL ANTONIO DE BRITO E  MARIA CUSTÓDIA  DO SACRAMENTO  PROPRIETARIOS E MORADORES NO SÍTIO MALHADA , CONFORME SEU INVENTÁRIO DATADO DE  1877
01 – Maria, matriculada avaliada por quatrocentos réis – 4000:000;
02 – Metade do  escravo Sabino, como  se ver da  matrícula , avaliado por  175:000 réis;
03 – Metade  da escrava Isabel como  se ver da matrícula , avaliada em  por 125:000 réis.

FONTES:
03. http://www.multirio.rj.gov.br;
04. A Escravidão no Ceará: o Trabalho Escravo e a Abolição
05. Livros Eclesiásticos da Freguesia do Crato – DHDPG – Departamento Histórico Diocesano Padre Gomes,
06. Inventários da Freguesia do Crato -  CEDOCC – Centro de Documentação do Cariri – URCA- CRATO – CE.



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