Acabara de sair de Buriti Alegre, minha terra natal, e uma nova etapa da vida se iniciara em Goiânia. Trocara o interior tranqüilo, o trabalho na roça, o carinho da família e a convivência dos amigos, pela "cidade grande", pelo desconhecido e, sobretudo, pelo desafio dos estudos, do magistério, de traçar meu futuro profissional. Logo, estava firme na militância política. O Brasil vivia tempos de imensa efervescência institucional, com uma ditadura militar, que embora ainda forte e truculenta, já não despertava medo suficiente para impedir que fossemos as ruas lutar pela Anistia, para reorganizar a vida sindical, fundar o PT, lançar a semente da Assembléia Nacional Constituinte e do inesquecível movimento popular pelas Diretas Já.
Era um Brasil absolutamente diferente do que vivemos, mas muito mais parecido com o Brasil dos anos 90 do que com o que estamos vivenciando de 2003 para cá. É como se tivéssemos dormido um sono pesado e, anos depois, ao despertar nos deparássemos com um país totalmente diferente, transformado radicalmente em todos os aspectos: o humano, o social, o econômico, o político. Mudamos para melhor. Evoluímos muito. Não tivéssemos uma natural timidez, só perdida nas decisões de campeonatos ou copas do mundo e aquele justificável medo de parecer ufanistas, amanheceríamos com um sorriso agradecendo a ventura suprema e a sorte imensa de poder dizer em qualquer canto do mundo quando perguntados sobre nossa origem, ou preencher questionários com a palavra mágica, que vem de uma madeira nobre e de uma história que poucos outros povos têm igual: “B-R-A-S-I-L”.
Sempre recordo que mais de trinta milhões de brasileiros saíram da pobreza, deixando padrões de sobrevivência abaixo do aceitável pela condição humana, para ingressar na classe média e hoje impulsionam a economia e fazem parte de uma nova sociedade, mais democrática, promissora e feliz. Mas existe outro indicador, extraído do Censo do IBGE, trazido a público recentemente pelo conceituado analista José Roberto Toledo, acerca da impressionante queda na desigualdade entre as cidades brasileiras, mostrando uma face importantíssima da nova realidade sócio-econômica vivida pelo Brasil desde o governo do presidente Lula.
A pesquisa publicada pelo insuspeito jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição de 19 de junho, revela dados relativos à última década, quando a desigualdade de renda entre os Municípios do país caiu em expressivos 32%. Não demonstram, apenas, a melhoria do padrão de vida dos brasileiros, mas uma desconcentração de renda e um melhor equilíbrio federativo. Não bastasse esse indicador que tanto fala por si só, também na última década, os ganhos dos moradores de 95% dos Municípios, principalmente os mais pobres, cresceram mais que a inflação do mesmo período.
Exemplos da prosperidade que brota em todos os recantos de nosso território continental abundam no impactante levantamento do pesquisador. Um deles, logo na abertura da matéria, dispensa maiores comentários: Mateiros, no sudeste do Estado do Tocantins, em 2000 não tinha luz elétrica e suas terras secas não eram cultivadas ou tinham qualquer valor. Hoje é um pólo agrícola emergente, produtor de soja, milho e arroz, e um dos destinos mais importantes do ecoturismo nacional, com o belíssimo deserto do Jalapão, cujo ecossistema é uma das jóias da humanidade. Em 2000 seus habitantes tinham uma renda média mensal de R$ 117. Hoje, ganham R$ 1.110 por mês, num salto espetacular de 1.667%! Mateiros ocupava o 5.417º entre as cidades brasileiras. Hoje é a 53ª cidade mais rica do Brasil e seu PIB chegou aos R$ 45 mil/ano!
Não por acaso, a presidenta Dilma Rousseff teve 70,4% dos votos em Mateiros contra apenas 29,5% de seu oponente tucano, o ex-governador paulista José Serra. Não por acaso, o Município brasileiro com a maior desigualdade de renda não está perdido no sertão piauiense que até pouco tempo atrás era motivo de preocupação para a grande maioria dos brasileiros e motivo de deboche para meia-dúzia de insensíveis. Nem é uma povoação amazônica, na fronteira com algum país da região. Para nosso pasmo e revolta é Santana de Parnaíba, distante poucos quilometros do centro de São Paulo, Estado governado pelo PSDB desde os anos 90... Os números são lamentáveis, vergonhosos, hediondos até, com mais da metade da população de 108 mil habitantes vivendo abaixo de padrões mínimos de dignidade humana. Mais de 6 mil famílias sobrevivem com menos de meio salário mínimo. Vou repetir: meio salário mínimo, a poucos quilometros do centro de São Paulo, a Bastilha do PSDB... É o retrato frio, cruel, brutal e em 3x4, da preocupação social dos tucanos.
Dizem os norte-americanos diante de tais situações: “é a economia, estúpido.” Digo eu: não! É bem mais que apenas a boa condução econômica. É um país que fez a opção por um modelo de governança claro, onde a política econômica não despreza a questão social e o elemento humano, mesmo levando em conta a austeridade necessária e absolutamente indispensável na condução dos assuntos da Nação. A meta é o bem-estar de toda a cidadania e a melhora das condições de vida da população, ao mesmo tempo em que nossas políticas de austeridade fiscal, de equilíbrio das contas públicas e de alcançar as metas de desenvolvimento social, econômico e humano devem ser perseguidas com imensa disciplina e sentido de missão.
No ano de 2000, quando o Brasil já havia ido três vezes à bancarrota nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, a concentração de riqueza era uma das maiores do mundo. Uma brutalidade ímpar: a renda média dos 1.110 Munícípios brasileiros mais ricos era 4,7 vezes maior que a dos 1.110 Municípios mais pobres. Em 2010, depois do governo de profundas preocupações humanistas e de ação social efetiva do Estadista Lula, essa proporção já caiu para 3,2 vezes. No governo de FHC, a renda média dos 20% de Municípios que formam a base da pirâmide brasileira (mais pobres) era de R$ 155 por habitante/mês (2000). Ao final do governo Lula esse indicador chegou aos R$ 263 por habitante/mês, num ganho mensal de R$ 108 por cada um dos habitantes. E a renda dos Municípios mais ricos (topo da pirâmide) passou de R$ 725 para R$ 839, ou seja, R$ 114 por habitante/mês a mais no bolso de cada um. Nas cidades ricas e nas pobres, todos ganharam mais. Nas mais pobres, o ganho foi quatro vezes maior. A íntegra da pesquisa está publicada em meu site. Vale a pena conferir: www.delubio.com.br
A distância entre pobres e ricos foi encurtada. Fez-se justiça social e houve uma mudança real e para muito melhor na vida dos brasileiros de todas as categorias sociais, de todas as cidades, de todas as regiões do país. Obra de Lula, obra de Dilma, obra do governo do PT. O povo sabe, por isso reconhece e quis a continuidade de nosso modelo de governo.
Temos muitos motivos para amar nosso país. Milhares, certamente. Mas agora, existe um que nos é muito caro: o Brasil está mais justo, mais igualitário, mais fraterno. As desigualdades vão caindo, pouco a pouco, uma a uma elas estão indo ao chão. O governo Lula, a força do povo, a eleição de Dilma, a irrefreável maré do desenvolvimento sustentável, se encarregaram de derrubar barreiras, desmoralizar preconceitos e de abrir caminhos seguros para o futuro de grandeza que espera o Brasil e os brasileiros.
(*) Delúbio Soares é professor
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