quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

TAPETE MÁGICO

Eram 2 horas da manhã quando resolvi deixar a festa e ir pra casa sozinha mesmo, estava fora da alegria do ambiente e totalmente deslocada. Falei qualquer desculpa ao meu marido e fui andando devagar curtindo o ar fresco da madrugada, não tinha estrelas, estava nublado e perecia que logo choveria. Entrei pela porta da sala ao ascender a luz tive uma surpresa, um tapete lindo, do jeito que sempre desejei estava lá estendido, tão lindo que apagara todo o restante da decoração. Fiquei a olhar tanta beleza, tirei os sapatos e fui com muito carinho e jeito sentar-me bem ao meio e como se já soubesse manejá-lo, dei-lhe uma simples ordem: Meu tapete mágico leve-me agora para os lugares que sempre visitei em pensamentos e sempre quis estar lá pessoalmente, não dê voltas, leve-me do primeiro ao último, não me deixe perder o mínimo detalhe.

Era maravilhoso estar voando tão assim sem o menor abalo, sem sentir frio, vento, era tudo muito lindo. Não senti medo, nem deu tempo já estávamos por cima da Pirâmide de Quéops, depois de ver tudo com boca e olhos bem abertos, foi a vez do Jardins Suspensos da babilônia, pena fotografar, a Estátua de Zeus em Olímpia, nem sei qual mais bonito se o templo de Ártemis em Éfeso ou o Mausoléu de Halicarnasso, diante do Colosso de Rodes babei a vontade,e fui chorar diante do Farol de Alexandria.

Com certa autoridade falei ao meu tapete mágico chega das antigas maravilhas, leve-me por favor às mais novas que lá também me derramarei em emoções. Fui rápida transportada para meu desejo realizar, num segundo estávamos lá diante de nada menos do que Slonehege, fomos para o Coliseu de Roma, lembranças tristes me trouxeram, pedi, leve-me às Catatumbas de Kom el Shoqafa, fomos à torre de Porcelana de Naquim e como tudo é mágico leve-me agora às muralhas da China. Nem pisquei e já estava conhecendo a Torre de Pisa. Muito lindo então satisfeita quis conhecer a Basílica de Santa Sofia. Meu Deus como é possível tantas obras maravilhosas? Lembrei-me então de pedir para passar pela Abadia de Cluny e é lógico pelo Taj Mahal. Suspirei satisfeita, mas queria aproveitar mais, mas percebia que não deveria abusar da boa vontade do meu condutor, apesar de mágico deveria ter um limite, pensei comigo, como em todos os lugares que visitamos era dia de acordo com o local, posso então escolher um lugar que mais quero nestes últimos anos e sem vacilar, disse-lhe em vos firme: Leve - me à malhada dos Brito, no ano de 1960.

Eu uma menina magricela, com cabelos enormes feito tranças, com vestido de flor corria quase coando para os braços dele, alto, esbelto sempre vestido de calças claras e camisas de tecido, cabelos vastos , pretos e bem penteados, abria os braços e me balançava pra lá e pra cá, nossas gargalhadas se misturavam. Nunca esquecerei aquele dia, aquele encontro com ele, o homem que pouco tempo tivemos juntos, mas deixou-me grandes lições e uma delas é a que nunca responda com rancor, mesmo tendo razão e sendo ofendida, dê sempre um sorriso e olhe bem nos olhos do sei provocador. Deus cuidará do resto.

Fiquei com meu pai o dia todo, subi em árvores, andei à cavalo, almoçamos na casa do tio Bitõe, fomos nos sentar no banco embaixo da cajaraneira, deitei-me no bando e apoiei minha cabeça em seu colo, ele alisava meus cabelos. Não existe lugar mais mágico do que este pensei.

Tomei um susto com a meu marido passando a mão de leve em meus cabelos e dizendo: Gostou da surpresa querida? Deu trabalho escondê-lo de você e colocá-lo sem você ver. Ele é lindo, não é? Disse sim com um balanço de cabeça e deixei-me ser levada pelos braços fortes desta vez do meu negrão, meu amável marido.

Meu tapete é uma linda imitação de um tapete indiano, mas a magia é verdadeira no meu coração.

Ìris Pereira

Um comentário:

Arcoiris No Horizonte disse...

A magia está em meu coração, mas não duvidem se qualquer dia eu esteja ai junto com todo esse meu povo ai destas bandas, quem sabe só assim mate essa saudade tamanha que arrasa com minha esperança, que as vezes tenho vontade de ser livre e sair por ai igual uma andarilha, sem compromisso e só com um destino, ir pro nordeste do pais ficar por lá até meus últimos dias.
Ai que saudade danada firmou morada aqui dentro e não quer me dar um alento, e nem esperança renasce pra eu ver de novo o lugar que nasci e lá fui tão feliz.
Um forte abraço para todos e um feliz 2011.