Delúbio Soares (*)
Quando me perguntam das lembranças natalinas da minha infância, eu respondo que elas não existem. Lá em Buriti Alegre, terra amada do interior goiano, na década de 60, a vida se dividia entre o campo e a escola. A felicidade era tanta, o entendimento familiar tamanho e a imensa alegria de viver de tal proporção, que posso dizer que mesmo sem ter conhecido os encantos do Papai Noel e seus presentes, tive a ventura de viver um Natal permanente na casa humilde de meus velhos e adorados pais, ao lado de meus irmãos tão queridos.
Mas nem por não ter tido o Natal como algo presente nos verdes anos da infância e da adolescência, jamais deixei de emocionar-me com ele, com a alegria que desperta nas crianças, na emotividade que arrebata corações, no espírito fraterno que ele estimula e nas esperanças de um Ano Novo melhor e mais feliz. O Natal é uma data que marca a todos e nos relembra dos melhores valores espirituais de respeito e solidariedade humana.
Vivemos um Natal inesquecível, pleno de paz e de realização. Leio nos jornais, escuto nas rádios e vejo nas televisões as notícias de um país que superou traumas econômicos e venceu barreiras sociais, e seu povo vai passar o mais tranqüilo e farto Natal das últimas cinco décadas. Esse é o grandioso e melhor presente que todos nós poderíamos receber. E o mais bonito desse Natal é a esperança no Ano Novo.
É importante que os brasileiros estejam comprando, enchendo lojas, equipando suas casas com móveis e eletrodomésticos, realizando sonhos de toda a vida. É reconfortante ver os olhos e as bocas, ambos sorridentes, de gente do povo mais humilde que lota aeroportos e vê a terra a milhares de pés de altura pela primeira vez. É emocionante saber que mais de 30 milhões de brasileiros deixaram a pobreza e ingressaram na classe média, experimentando um padrão de vida antes insuspeito e quase impossível para eles e suas famílias. Que Natal mais Natal que o de 2010? Que espírito mais cristão e fraternal que o da felicidade e da paz entre os brasileiros?
Papai Noel não chegou com suas renas trazendo em seu trenó mágico e tão aguardado sacos e sacos de presentes. O que chegou foi cidadania em seu estado mais puro; foi democracia de oportunidades, refletida no fim do desemprego; foram felicidade e prosperidade transformadas em casa, comida e educação.
Realizamos num Natal generoso, farto e alegre, cheio de simbologia e de significados, o sonho coletivo de um país grande que se transforma em Grande Nação. Chegamos ao término de um governo que revolucionou as estruturas sociais, políticas e econômicas do Brasil, da forma mais serena e democrática possível, marcando época e cumprindo histórica missão. Estamos às vésperas da posse da primeira mulher a ser eleita para a presidência da República. O operário que virou Estadista entregará a faixa presidencial a uma guerreira determinada e de altíssima capacidade de gestão.
Vivemos, talvez, o nosso melhor momento. Sem que nos esqueçamos dos problemas estruturais que persistem, das mazelas oriundas das desigualdades sociais ainda existentes, das dificuldades políticas que ainda precisam ser vencidas, o Brasil ultrapassou a barreira do comodismo e da alienação, da subserviência às grandes potências e da incapacidade de assumir sua força e importância, e está na rampa de lançamento rumo ao primeiro mundo.
Lula, com os olhos de filho do povo e o coração generoso de lutador das melhores causas, enxergou nossos problemas e sentiu que se apresentava a oportunidade histórica de superá-los. O Natal de paz, progresso, prosperidade e alegria, têm a marca do talento e da grandeza desse grande Presidente. Lula já pertence à história de seu país, em página memorável e épica.
Os brasileiros estão felizes. Perderam o medo de ser felizes. E o pior pecado – segundo Borges, o grande poeta argentino – é o pecado de não ser feliz.
Feliz Natal, Brasil!
(*) Delúbio Soares é professor
www.twitter.com/delubiosoares
companheirodelubio@gmail.com
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