Apesar de descartar participar formalmente do próximo governo, presidente diz que quer seguir 'ajudando o Brasil'
- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 31, que continuará à frente da rede de movimentos sociais e sindicais depois que deixar a Presidência. Em entrevista no pátio da Escola Estadual João Firmino, onde votou pela manhã, afirmou que estará à disposição de sua sucessora, a "companheira" Dilma Rousseff, para eventuais embates com os adversários e diálogos com empresários e aliados.
"Não tenho como desaparecer da minha relação com a sociedade de uma hora para a outra", afirmou. "Quero continuar viajando, ajudando o Brasil e a política", ressaltou. "Sou um ser humano político."
Nas respostas sobre o futuro político, Lula sugeriu que a disputa de 2014 é um tema de interesse da imprensa, enquanto a preocupação dele é permanecer em evidência nas ruas após deixar o governo. "Ela (Dilma) vai tomar posse no dia 1º. Eu vou para a terra e ela continua. Eu, no nosso barco", afirmou. E repetiu semblante de falta de interesse toda vez que foi perguntado sobre um possível terceiro mandato, dizendo não ter "vontade" de voltar ao Planalto.
Ao comentar o poder das ruas, ele observou que deixa o governo com 80% de aprovação. Mas descartou participar formalmente do futuro governo e mesmo das atividades do PT, mas estará aberto para conversas com Dilma. "Eu sou companheiro da Dilma, gente, lógico que eu vou discutir com ela muitas coisas", disse. "A única tarefa que eu não quero é ter tarefa dentro do governo ou do partido."
Se a situação da "companheira" estiver tranquila, Lula pretende se dedicar aos afagos a sindicatos e organizações não governamentais em atividade nos grotões do País e à sua imagem no exterior. "Eu tenho muita coisa a fazer no Brasil. Tenho relação muito forte com o movimento social. Vou continuar andando pelo País", disse. "Ainda temos que construir uma solidez forte na América Latina, a integração ainda não é total."
Para Lula, Dilma deve construir um governo com a "cara" dela, com pessoas de confiança que possa colocar e tirar. E sinalizou que a petista vai recorrer à mesma fórmula usada por ele em momentos de turbulência política – colar nos críticos a tarja de preconceituoso.
No primeiro mandato, o presidente acusava adversários de preconceito contra um ex-metalúrgico. Ontem, Lula disse que a petista sofreu por ser mulher. "Acho que é uma coisa delicada o que aconteceu nessa campanha, a disseminação do ódio e do preconceito", disse. "Em política, isso é muito grave."
PMDB. A uma pergunta sobre o apetite do aliado PMDB por cargos, o presidente respondeu que é um "grande engano" achar que o partido tomará conta do governo. Avaliou que Dilma está preparada para lidar com os aliados de forma "republicana" e montar uma equipe de acordo com a sua base de sustentação política. "Não tenho dúvida que fará um grande governo."
O presidente fez críticas às igrejas pela postura no debate do aborto e à imprensa por agir de "má fé" e "explorar" politicamente o discurso religioso, especialmente uma declaração recente do papa Bento XVI. "Acho que as igrejas vão ter de pensar o seu papel, porque muita gente usou e abusou do direito de vender inverdades", afirmou. "Alguns setores da imprensa erram ao tentar nivelar a política por baixo."
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