terça-feira, 22 de setembro de 2009

220909 - 10ª Romaria das Comunidades ao Caldeirão do Beato Zé Lourenço


Aconteceu neste domingo, 20.09, a 10ª Romaria das Comunidades ao Caldeirão do Beato Zé Lourenço organizada e realizada por: CPT. CEBs, CÁRITAS , EIXO AÇÃO DA DIOCESE, Universidade Regional do Cariri - URCA e Administração Municipal de Crato.
A concelebração eucarística foi presidida pelo Padre Vileci Vidal - Pároco de Assaré, auxiliado por Mons. João Bosco Cartaxo Esmeraldo, pároco da Paróquia de São José Operário de Ponta da Serra, Padre Paulo Moura, Vigário Paroquial de Ponta da Serra e Padre João Carlos Ferini, salesiano italiano.
O tema principal deste ano foi "Vida e Cidadania no Semiárido".
Outros temas também foram trabalhados, tais como: O meio ambiente, a questão racial, o mapeamento das comunidades negras e indígenas do Cariri e o desenvolvimento sustentável
“O objetivo deste evento é rememorar a história do Caldeirão, do Beato José Lourenço e da experiência comunitária vivida pelos que passaram por aquele lugar. "O Caldeirão é um exemplo de comunidade organizada e de compartilhamento dos saberes, pois tudo o que eles sabiam transmitiam ao próximo. Essa experiência nos inspira a uma convivência com o semi-árido e impulsiona um desejo de luta pela reforma agrária", explica pe. Vileci Basílio Vidal, coordenador da Comissão Pastoral da Terra/CE e pároco da paróquia de N. Sra. das Dores, de Assaré (CE).
“A Romaria das Comunidades ao Caldeirão do Beato Zé Lourenço teve sua primeira edição como forma de comemorar os 25 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os 10 anos do Fórum Araripense de combate à desertificação e a passagem do século. Todo ano, cresce o número de fiéis que seguem a Romaria. São grupos de cidades como Fortaleza (CE) e Exu (PE) que aumentam a massa de participantes”. ( fonte: http://www.adital.com.br/ )
.Neste domingo, como de costume, o Mons. João Bosco, pároco em Ponta da Serra liderou um grupo de fies que se dirigiu, de carro, até a Lagoa do Faustino,onde se juntou a outros grupos. Na localidade onde está sendo edificada uma pequena capela em honra a São Lourenço foi servido o café comunitário, às 5 hs. Logo após, aqueles que julgaram ser possível prosseguir em caminhada, seguiram, os demais, continuaram nos seus transportes. Durante o percurso de 6 km, o grupo liderado por Mons. Bosco, manteve-se firme com seus cânticos e louvores até o Caldeirão.
Durante a caminhada a Sra. Cícera Souza Vanderlei, residente atualmente no município de Araripe CE, filha do Sr. Nelson Pereira de Souza, da região do Faustino, confidenciou que na década de 1990 o Grupo de Jovem liderada por ela e outros, sentindo-se na necessidade de se criar algum tipo de lazer, teve a idéia de iniciar algumas caminhadas até o Caldeirão, fato esse que despertou o interesse da imprensa regional e dos estudiosos do tema, à época.
Deve-se salientar que em 1986 o cineasta Rosemberg Cariry realizou um documentário rico em depoimentos de sobrevivente do massacre, no que deve ter chamando a atenção desses jovens, que foram os pioneiros nessas romarias
Hoje, pelo que se sabe, a Prefeitura de Crato já adquiriu boa parte das terras do sítio Caldeirão e juntamente com o Governo do Estado, iniciou a construção d o Parque Histórico do Caldeirão.
O caldeirão do Beato Zé Lourenço está localizado na divisa dos distritos de Monte Alverne e Dom Quintino, distante 30 quilômetros da sede do município de Crato.
UMA SÍNTESE DA TRAJETÓRIA DO BEATO ZÉ LOURENÇO

José Lourenço Gomes da Silva era o seu nome verdadeiro. Nascido em Barra de Santana- PB, para uns ou Pilão de Dentro - PB, para outros, no ano de 1870.
Certamente, influenciado pelo caso do “milagre da hóstia”, ocorrido em 1º de março de 1889, chega em Juazeiro do Norte já no ano seguinte( 1890). Por ser um jovem forte muito trabalhador e de muita fé, foi recebido pelo Padre Cícero que logo arrendou o sítio Baixa Dantas, de propriedade do Sr. João de Brito, onde o jovem Zé Lourenço, em pouco tempo, conseguiu transformá-lo num grande celeiro de frutas e legumes, sendo possível, em 1914, quando da “sedição de Juazeiro” garantir a alimentação dos revolucionários.
Por motivo de venda da referida propriedade no ano de 1922, o Beato e seus homens foram obrigados a desocuparem as terras que foram cultivadas com tanto zelo e só em 1926 é que o Padre Cícero os encaminha ao sítio Caldeirão, de sua propriedade, a uma distância de 30 quilômetros da Baixa Dantas. Aqui , tudo começa outra vez. “Sob a liderança do beato Zé Lourenço, a comunidade transformou o sitio Caldeirão num celeiro de produção agrícola do Cariri. Ali foram instalados engenhos de rapadura, oficinas de ferreiro, sapateiros, tecelagem, projetos de irrigação, casa de farinha, além de grande produção de frutas, legumes e criação de animais” (Antonio Vicelmo).
Daí em diante começam a chegar grupos de famílias oriundos dos mais diversos Estados do Nordeste, dentre elas, a do Severino Tavares, em 1926.
Na verdade, “a comunidade prosperou. As famílias habitavam casas simples, mas tinham trabalho, escola, igreja, atividades culturais, religiosas e de lazer. Tudo era em sistema de mutirão e não recebia ajuda externa. O Caldeirão tornou-se uma comunidade auto-suficiente. A agricultura era tratada de forma ecologicamente correta. Os moradores do local cuidavam da preservação do solo, dos mananciais hídricos, da fauna e flora, cujas explorações atendiam às normas específicas da comunidade. Criações de bovinos e caprinos garantiam o fornecimento de carne e leite. As peles transformavam em peças de artesanato. A produção atendia ao consumo interno, e o que sobrava, vendiam para as cidades próximas como Juazeiro do Norte e Crato, gerando economia para a compra de produtos necessários à sobrevivência das famílias. A terra e os meios de produção eram de propriedade coletiva”. (www.opovo.com.br/ ). Entre as virtudes da comunidade do Caldeirão, também conhecida como Irmandade de Santa Cruz, a caridade sobressaiu durante a seca de 1932, pois, alguns retirantes tiveram sorte e conseguiram driblar o Campo do Buriti e chegar até o Caldeirão, onde as atividades corriam normalmente, já que mesmo nos anos de estiagem não faltava comida. José Lourenço solidarizou-se com os sertanejos e integrou à sua comunidade pelo menos 500 pessoas que pediram auxílio.
Apesar de tudo isso a maldade dos proprietários de terras da redondeza, das autoridades militares e eclesiásticas falou mais alto. Os proprietários alegavam lhes faltar a mão -de obra, fato que não se justifica, visto que a maioria do pessoal da comunidade do Caldeirão era oriunda de outras regiões. As autoridades da época, temendo a onda de comunismo que assolava o mundo, acreditavam que tudo aquilo era coisa de comunista. Justificativa também falha, pois, pelo que se sabe, o Beato e sua gente nada tinham de política, ao contrário, viviam puramente da labuta e da oração.
Finalmente, em 11 de setembro de 1936 o governo do Estado de então, autoriza o primeiro ataque ao Caldeirão e as forças do Estado invadiram o Caldeirão, mas não encontraram o beato José Lourenço, que havia fugido para a floresta da Chapada do Araripe. “Lá ele tomou o cuidado de não fixar residência, vivendo de forma nômade em construções de palha improvisadas, alimentando-se de frutas silvestres e, por vezes, de gêneros doados por amigos de fazendas próximas”. (www.opovo.com.br). “A comunidade foi aprisionada com uma cerca de arame farpado. As casas de taipa foram incendiadas e os bens foram saqueados. "Apesar da violência, não morreu ninguém", contam os remanescentes do Caldeirão.
Mas o pior viria ainda acontecer: é que as autoridades temendo a volta do pessoal ao Caldeirão, em 11 de maio de 1937, promovem o 2º ataque com o uso de aviões e bombas, no que destruiu por completo o Caldeirão. “As autoridades do Ceará receberam denúncias sobre o pessoal de José Lourenço, que após a dissolução da comunidade vivia clandestinamente nas matas da chapada do Araripe. Corriam boatos de que ex-integrantes do Caldeirão, chefiados pelo mensageiro Severino Tavares, atacariam o Crato. Soldados da polícia de Juazeiro foram até lá para checar as informações e entraram em conflito com um grupo de camponeses. Houve mortes. Após a divulgação do conflito, contingentes militares partiram de Fortaleza à caça dos remanescentes do Caldeirão. O ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, colocou a força federal à disposição do governo cearense e autorizou o vôo de três aparelhos do Destacamento de Aviação. Dos aviões, as metralhadoras dispararam, enquanto 200 patrulheiros vasculhavam a chapada do Araripe para concluir a missão. Naquele 11 de maio de 1937, cerca de 700 lavradores foram massacrados. Nenhum soldado morreu. Em 1938, José Lourenço retornou ao sítio Caldeirão e ali permaneceu por dois anos até ser novamente expulso pelo procurador dos padres salesianos, proprietários da fazenda. Seguiu então para Exu, no lado pernambucano da chapada, onde montou outra comunidade, no sítio União. José Lourenço morreu em 12 de fevereiro de 1946 no sítio União, vítima de peste bubônica. Seguidores carregaram o caixão com seu corpo, a pé, de Exu até Juazeiro do Norte, num percurso de 70 quilômetros. Os fiéis solicitaram uma missa a monsenhor Joviniano Barreto, porém o vigário não apenas recusou o pedido, como proibiu a entrada do esquife na capela. Após serem rejeitados, os amigos do beato fizeram o sepultamento no Cemitério do Socorro, ao lado da igreja homônima”. (http://www.reporterbrasil.com.br/ )

( Antonio Correia Lima é graduado em História pela Universidade Regional do Cariri- URCA, e editor do Jornal e do Blog Ponta da Serra)


Um comentário:

Antonio Alves de Morais disse...

Quem conhece a historia do Jose Lourenço sabe que estão chegando com muito atrazo. Mesmo assim o que for feito em sua memoria será merecido.