Viveu 77 anos enfrentando
dificuldades pessoais, familiares, sociais, políticas, religiosas, vencendo os
desafios como um predestinado remando contra a corrente.
Com a morte prematura da mãe, a
condenação e morte do pai e do irmão mais velho, envolvidos na Confederação do
Equador, o Jovem Ibiapina teve que assumir a família. Entrou e saiu do
Seminário onde pretendia estudar para padre. Com a criação do curso Jurídico em
Olinda, seguiu o Direito e formou-se em 1832.
Logo foi nomeado professor e,
em seguida, eleito deputado geral, acumulando os cargos de juiz de direito e
chefe de polícia. Tendo subido com sucesso e tão rapidamente na vida, Ibiapina
vai descer na mesma rapidez por decisão de caráter.
Ele não se encaixava na
engrenagem da política, nem da magistratura, percebendo as mentiras, as
falcatruas, ladroagens, prepotências, a força do dinheiro, as articulações
promíscuas do poder constituído. Abandonou essas estruturas e foi viver como
advogado independente. Em 1838 atuava na cidade de Brejo de Areia, onde começou
a ganhar fama e crédito. Quem defendia o pobre, o que não tinha ninguém por
ele? Era o Doutor Ibiapina!
Quem outro? Em 1840 abriu sua
banca de advocacia no Recife, seguindo o traçado do direito, da verdade, da
justiça. Em 1850 deixou também a advocacia. Não lhe interessou o dinheiro, os
bens materiais e a fama de excelente profissional do Direito.
Para o julgamento do mundo, fez
a loucura de deixar tudo e buscar a solidão. Foi ordenado padre aos 3 de julho
de 1853, com 47 anos incompletos.
De imediato, apresentou-se lhe
nova oportunidade de subir na vida pela carreira eclesiástica: nomeado
professor do Seminário, vigário geral da diocese de Pernambuco e bispo mais
adiante, quase certamente. Preferiu a vida dura de missionário pelos caminhos
do Nordeste. Na segunda metade do século XIX, com a epidemia do cólera e as
grandes secas matando gente à vontade, ele decidiu-se pela missão itinerante.
De 1853 até 1883, foram 30 anos de dedicação ao pobre, ao indigente, à
orfandade, aos doentes e desvalidos, aos que não tinham mais esperança. Ao
longo do tempo sofreu ataques da maçonaria, incompreensões do bispo do Ceará e
sete anos de paralisia antes de morrer. As 22 Casas de Caridade por ele
fundadas foram também desaparecendo. A de Santa Fé resistiu a duras penas até a
década de 1940, quando Celso Mariz escrevia “Ibiapina, um apóstolo do
Nordeste”.
À parte o grande historiador,
Ibiapina foi sendo quase que completamente esquecido depois de sua morte, em
1883. Dom Marcelo Carvalheira o resgatou, deu entrada ao processo para sua
canonização, em 1992, iniciando também a transformação de Santa Fé em Centro
Pastoral. Hoje “Santuário Padre Ibiapina”.
O tempo de esquecimento, num
primeiro momento, talvez se possa atribuir ao “fenômeno” Padre Cícero
(1844-1934) que a partir de 1889, pelo “milagre” da hóstia ensanguentada, foi
acusado de embusteiro, a beata Maria de Araújo de doente e o povo de fanático.
As censuras e condenações foram implacáveis contra o“santo” do Juazeiro e a
hierarquia católica passou a evitar qualquer fato ou pessoa que pudesse
despertar fanatismo. O nordestino simples e pobre, porém, ignorou as proibições
da Igreja, continuou suas romarias e multiplicou por toda parte a imagem do
“Padim”.
Correndo o tempo, veio Frei
Damião (1898-1997) com suas missões populares, entrando na vida do povo com as
ameaças de inferno e mandando acabar com protestante, na contramão do Concílio
Vaticano II. Mais esquecido foi ficando Ibiapina! Por mais de sessenta anos, de
cidade em cidade de nossa região, Frei Damião reuniu multidões, muitas vezes
levado por políticos e “igrejeiros” com estranhos interesses. O frei faleceu em
1997 e já tem sua imagem-monumento desde 2004, com 34 metros de altura sobre a
Serra da Jurema, em Guarabira. Tudo muito rápido e grandioso, o monumento logo
se tornou um ponto certo de turismo e devoção.
Padre Cícero, pela insistência
da diocese do Crato e do seu atual bispo-emérito, Dom Fernando Panico, nos
últimos anos, conseguiu recentemente a desejada reconciliação com o Vaticano.
Frei Damião, com o respaldo e interesse de sua Ordem religiosa, está com seu
processo de canonização em pleno andamento. Muito provavelmente, os dois
chegarão à glória dos altares bem antes do nosso Padre Ibiapina, que se arrasta
com dificuldades para atender as exigências de Roma.
Mesmo assim, no próximo dia 19
deste mês de fevereiro, milhares de devotos chegarão ao Santuário de Santa Fé,
na Arara, para visitar o túmulo do missionário, participar da santa Missa,
agradecer as graças alcançadas e pedir mais outras. “Louvado seja Nosso Senhor
Jesus Cristo” foi seu lema, sua expressão cotidiana.
Sigamos com ele o CAMINHO que é
Jesus!
(*) Artigo publicado no jornal
A UNIÃO, de João Pessoa, Paraíba, em 14 de fevereiro
COLABORAÇÃO: ARMANDO RAFAEL
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