- Enrique De La Osa-28.jan.2013/ReutersFrade dominicano e escritor, Frei Betto
Foi um ato de "grande humildade". Foi assim que o frei dominicano e escritor, Frei Betto, avaliou nesta segunda-feira (11) que a renúncia do papa Bento 16. Para ele, o fato do pontífice ter um perfil "mais intelectual e menos administrador" fez com que a decisão não fosse uma surpresa.
"Foi um ato de grande humildade, porque o cargo é vitalício. Embora haja precedente, ele é o quinto papa a renunciar em pouco mais de 2.000 anos da história da Igreja Católica", ressaltou em entrevista ao UOL.
Frei Betto argumenta que os intelectuais não gostam de assumir funções administrativas. "Porque isso os tira da leitura, dos livros, dos que querem escrever, das pesquisas que querem fazer. E como [Joseph] Ratzinger é fundamentalmente um intelectual, eu pressenti que o papado seria uma honra, mas, ao longo do tempo, um incômodo."
O religioso também destaca que Bento 16 é um caso raro de papa que conseguiu se dedicar à publicação de livros. "Ele fez um enorme esforço e conseguiu escrever e publicar a trilogia sobre Jesus. É um caso raro de papa-autor. Geralmente, os papas assinam documentos pontifícios que são escritos por assessores", apontou. "Acho que ele optou, para o resto de vida que ele tem, recolher-se a oração e a vida intelectual".
Para o frei, a principal marca de Bento 16 foi a de incentivar o estudo da teologia. Ao mesmo, ele evitou que a Igreja Católica debatesse o que Betto chamou de "temas-tabu", como o celibato sacerdotal, a união civil entre homossexuais e o sacerdote das mulheres.
"Ele trancou a porta do debate na Igreja. Tudo isso ficou no reino do tabu. Ele não quis avançar. Ele não fez a Igreja [Católica] se adequar ao mundo atual. Ele é um homem conservador e não quis avançar. Isso criava muito problema dentro da Igreja", completou.
A partir de agora, acredita Frei Betto, dependerá dos cardeais que votarão se pretendem escolher um pontífice que queira avançar ou não nas polêmicas que foram deixadas de lado por Bento 16. "Gostaria muito que [o próximo papa] fosse um homem aberto, progressista, que ousasse abrir o debate na Igreja para os chamados ‘temas-tabu’", ressaltou.
FONTE: NOTÍCIAS UOL
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