segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bandas alternativas buscam espaço na região do Cariri - 22.04.2012







Muitas vezes, os trabalhos das bandas precisam ser pagos pelos próprios integrantes
Os grupos reclamam da falta de apoio do poder públicoA expectativa é de que mais de cinco mil pessoas participem desta edição do evento

O grande diferencial do Armazém do Som é que a programação dá oportunidade para as bandas menos favorecidas da região se apresentar
Na região, cerca de 70% das bandas produzem trabalhos autorais e 30% fazem cover, mas elas são pouco divulgadas

Crato Atualmente, existem mais de 100 bandas e grupos musicais alternativos na região do Cariri. Eles apresentam seus shows nos mais variados formatos, com performances que vão desde a tradição regional até o rock. Entretanto, todas as vertentes sofrem uma concorrência desleal com a música de massa, principalmente a produzida pelas bandas de forró eletrônico.

Para os grupos alternativos, os espaços para divulgação de seus trabalhos em emissoras de comunicação ainda é restrito, uma vez que a programação da maioria delas é voltada para o gênero do forró eletrônico.

Para apresentar seus shows, os grupos musicais alternativos caririenses dispõem de espaços em instituições que trabalham a contracultura, como o Serviço Social do Comércio (Sesc), o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) ou as secretarias municipais de Cultura, em que os aspectos fogem do foco da cultura consumida pela grande massa e privilegiam as demais iniciativas artísticas e culturais.

Considerando que, em Fortaleza, há uma rotatividade maior de público e mais espaço para shows, a frequência de bandas que fazem cover é maior, se comparada com outras regiões do Interior do Estado.

Trabalhos autorais

No Cariri, o número de bandas que produzem trabalhos autorais é predominante. Estima-se que apenas 30% delas fazem cover. As mais conhecidas são a Rei Bulldog, Dead Rose e Los The Os. Já para os artistas com trabalhos autorais, o destaque é para Abidoral Jamacaru, Dr. Raiz, Glory Fate, Nightlife, Dudê Casado, Al Capone, Tá é Bebo, Sabunbeiros Cariris e Cantigar.

Apesar do pouco espaço na mídia, na região existem cerca de dez produtoras musicais que trabalham com o cenário alternativo, como a Sertão Pop e a Mundo Cariri, que esporadicamente promovem eventos e produzem álbuns. Os trabalhos precisam, muitas vezes, ser pagos pelos próprios componentes das bandas. Os custos dos investimentos em instrumentos, em equipamentos, gravações e pessoal são altos e, por não ter muito espaço para tocar, a realidade dos músicos acaba ocultando o glamour das apresentações.

Diante da falta de recursos e de um mercado consumidor que não oferece muitas possibilidades, a maioria deles não utiliza a música como forma de sobrevivência, e são quase que obrigados a trabalhar também em outros setores.

De acordo com o gestor técnico do Programa Cultura do Sesc, Antônio Queiroz, para a valorização dos trabalhos alternativos, autorais ou cover, falta iniciativas do poder público no que diz respeito à instalação de equipamentos que ofereçam espaços para que as apresentações aconteçam de uma forma digna.

"A gente vê que existem vários projetos legais que não são consolidados por falta de investimentos. Atualmente, as verbas para a cultura são insuficientes. É preciso que haja um pouco mais de interesse dos gestores públicos quanto ao reconhecimento da importância dos grupos culturais. A iniciativa privada também precisa dar sua contribuição", considera.

Falta de estrutura

Na região do Cariri há uma necessidade latente por espaços adequados para realização de apresentações culturais. Os locais que hoje são disponibilizados estão sem incrementos, adaptações e recursos técnicos satisfatórios e por isso permanecem sem qualquer utilidade.

Além do Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcante, em Crato, do Parque de Eventos Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, e do Parque da Cidade, em Barbalha, tomados pela iniciativa privada para a realização de eventos que agradam aos consumidores da cultura de massa, ainda não existe nenhum espaço público voltado especificamente para a realização de eventos culturais de grande porte.

O Governo do Estado iniciou a construção de um Centro de Convenções no Cariri, mas, desde 2009, a obra está em andamento e sem previsão para término. O equipamento está orçado em R$ 9,6 milhões e, quando estiver pronto, terá capacidade para acolher, além de grandes eventos culturais, como apresentações de música, teatro e dança, seminários e fóruns de negócios. Na cidade do Crato, no Centro Cultural do Araripe, raramente acontecem ações. O espaço está sendo mal utilizado.

A frequência de shows alternativos de bandas autorais nos Municípios caririenses é pequena, chegando a ser de apenas duas apresentações por mês. Alguns grupos fazem apenas uma a cada seis meses. A remuneração dos artistas também é baixa. Os cachês são bem mais inferiores do que os pagos a bandas conceituadas pelas emissoras de rádio. A desvalorização artística está diretamente atrelada à demanda de mercado.

Grupos se apresentarão em mostra

Entre os próximos dias 2 e 12 de maio, o Serviço Social do Comércio (Sesc) de Juazeiro do Norte irá promover a Mostra de Bandas Armazém do Som. O evento é um desdobramento do projeto mensal de música da instituição, que acontece nacionalmente em todas as unidades.

O formato já vem sendo realizado há quatro anos no Cariri. O período das inscrições aconteceu até o último mês de março, quando foi realizada a curadoria das bandas. Desta vez, o Sesc deu oportunidade aos grupos que nunca participaram da mostra e aos que estão com novo trabalhos, como foi o caso da banda Glory Fate, que lançou seu terceiro CD recentemente.

Durante a mostra, além das bandas locais que passaram pela seleção, haverá apresentações de artistas convidados, indicados por meio de pesquisas ou que enviaram material ao Sesc.

Nesta edição, irão se apresentar Artur Menezes, guitarrista que está consolidando sua carreira em São Paulo e no exterior; a banda de reggae Dona Lili, que traz um trabalho cultural; a Prowler, do Piauí que faz cover do Iron Maiden; Hardvolts, cover do ACDC; Damage Inc, cover do Metallica e a Ghost Rider, cover do Rush. Paralelamente ao evento, acontecerá o III Seminário de Música e Comportamento, em que serão realizadas ações temáticas, workshops, palestras e shows, além da exibição de filmes e documentários sobre o tema em pauta.

Programação

Toda a programação pretende trabalhar a formação e melhoramento do senso crítico dos participantes e músicos. As oficinas serão de técnica vocal, de bateria, que terá como facilitador o baterista internacionalmente conhecido por fazer parte da banda Almah e Burning in Hell, Marcelo Moreira. A de contrabaixo elétrico será ministrada por Marcelo Randermarck, baixista, compositor e arranjador e de guitarra, que terá como instrutor Artur Menezes.

As inscrições para o seminário são gratuitas e acontecem no mesmo período da Mostra de Bandas. Já o projeto Som das Tribos, que será promovido nos intervalos entre as bandas, trará exibições de clipes e shows, respeitando o gênero do dia.

Ao todo, estão sendo esperadas mais de cinco mil pessoas durante o evento. O grande diferencial do Armazém do Som é que a programação dá oportunidade para as bandas de garagens da região se apresentarem.

Atualmente, ainda não há espaço para que elas tenham uma boa visibilidade na dinâmica de apresentações. Sem espaço nas emissoras de rádio, os grupos ficam limitados apenas aos ensaios. A mostra já se configura como a porta de entrada no cenário musical. Por meio das apresentações, as bandas adquirem público e experiência com a troca de informações com outros músicos. Os grupos que se destacam durante a mostra acabam entrando em outros projetos promovidos pelo Sesc e também por outras instituições.

Diversidade

Pela sua duração, quantidade de apresentação e público diversificado, a Mostra de Bandas Armazém do Som representa um dos maiores eventos de música da região do Cariri. Na edição anterior, mais de seis mil pessoas puderam conferir 30 bandas, desde as que estavam em sua primeira apresentação até aquelas mais experientes e com carreira já consagrada, como Simone Soul e a banda Almah.

Neste ano, as apresentações mais aguardadas são as dos grupos que vão fazer tributos a bandas internacionais. A banda Prowler, por exemplo, está sendo uma das mais aguardadas pelo público que curte rock.

A programação que é inteiramente gratuita acontecerá através da distribuição de senhas para os shows de cada noite

Mais informações

Serviço Social do Comércio (Sesc)

Rua da Matriz, 227,

Bairro Centro - Crato

Região do Cariri

Telefone: (88) 3581.1065

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER

FONTE: Diário do Nordeste



Tânia Peixoto
"O tempo é o meu lugar, o tempo é minha casa."
(Vitor Ramil)

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