terça-feira, 28 de julho de 2009

280709 - Missa homenageia vaqueiro em Serrita


Grupo de barcamateiros vestidos a caráter participaram da solenidade de abertura do seminário sobre o aniversário de morte de Lampião (Foto: Antônio Vicelmo)



Serrita (PE). “Jesus, meu Jesus sertanejo, presença maior, minha crença, nas terras sem ninguém. Silêncio na serra, nos campos, ai! desencanto que a gente tem”. A voz forte de Santanna Cantador quebra o silêncio da caatinga e ecoa no Chapadão do Araripe, anunciando o início da missa do vaqueiro. Em frente ao altar, mais de mil vaqueiros escutam, em silêncio, o cantochão nordestino, lembrando o herói do sertão, o vaqueiro Raimundo Jacó. O quadro sertanejo é emoldurado com a caatinga seca.A viúva Helena Câncio, coordenadora do evento, complementa a cena sertaneja, declamando um texto de sua autoria que diz : “O sol forte, a água escassa que brota do chão, a aridez da terra que a torna incomum. Contraste: Paisagem inóspita que morre e ressurge. Às vezes, seco, outras, encharcadas. É o sertão”. O padre Domingos Malan, vigário de Serrita, transforma a homilia num credo. “Creio em Deus, pai do sertão, protetor desse mundo diferente, tão forte e respeitado. Creio na realidade sertaneja, sua cultura e seus valores sociais. Creio na chegança das noites e madrugadas frias, no orvalho que purifica a luz da manhã, no Sol que sobe para o topo do céu e faz o dia quente, marcante, de luta, suor, de calor e de coragem...”.

Na platéia, uma multidão contrita, ainda ressacada com a festa dos dois dias anteriores. Segundo a história, Raimundo era um excelente vaqueiro. Quando aboiava, seu canto atraía o gado para perto de si, assim como os apóstolos corriam ao encontro de Jesus. Era capaz de adivinhar onde dormia e comia cada cabeça de gado sob sua responsabilidade. As qualidades de Raimundo geraram inveja em seu companheiro, também vaqueiro, Miguel Lopes, que teria assassinado Raimundo com uma pedrada na cabeça, crime que nunca foi esclarecido. Miguel morreu negando a autoria da morte do companheiro. Conta-se também que o cachorro de Raimundo, seu amigo fiel, acompanhou todo o trajeto do enterro. Depois ficou ali até morrer de sede e de fome, guardando o túmulo do seu amigo Jacó.

O evento sócio-religioso foi criado em 1971 por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, o repentista cearense Pedro Bandeira e padre João Câncio, em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, primo de Gonzagão, que foi morto na madrugada de 8 de julho de 1954, com uma pancada na cabeça nas caatingas do Sítio de Lages, distrito de Serrita. Luiz Gonzaga chegou a dizer que o “covarde crime tinha motivos políticos”.

Inicialmente, a missa tinha o objetivo de denunciar a impunidade nos sertões de Pernambuco. O assassinato virou mito na voz do cantor Luiz Gonzaga: “Numa tarde bem tristonha/Gado muge sem parar/Lamentando seu vaqueiro/Que não vem mais aboiar./ Sacudido numa cova/Desprezado do Senhor/Só lembrado do cachorro/Que inda chora sua dor/É demais tanta dor...”.


Mais informações:Parque Estadual do VaqueiroMunicípio de SerritaPernambuco(87) 3882.1156

EXTRAIDO DO DIARIO DO NORDESTE

Um comentário:

Antonio Alves de Morais disse...

Antonio.

Bonita homenagem. Parabens.