No distrito de Ponta da Serra, localizado no município do Crato, uma amplificadora resiste aos tempos modernos.
“Prezado ouvinte, bom dia. Com este prefixo musical entra no ar a RPS, Radiodifusora Ponta da Serra, com o compromisso irredutível de defender o útil, o bem e a verdade, rogando a Deus que nos ilumina e nos dê sabedoria para divulgar a cultura de nossa comunidade. Que a paz do Senhor esteja convosco”. Com esta saudação, tendo como fundo musical o hino oficial de Ponta Serra, o locutor Antônio Correia Lima, conhecido por “Toinho”, quebra o silêncio do povoado, localizado a 20km do Crato.
A partir de então, a comunidade começa a se movimentar ao som de músicas, avisos e mensagens. É a velha amplificadora que, nas décadas de 40 e 50, representava o único meio de comunicação eletrônico das cidades do Interior. Com a chegada das emissoras de rádio, na década de 60, a televisão em 70 e a “febre” das rádios comunitárias, a partir de 80, as amplificadoras, difusoras ou radiadoras foram sucateadas.
A voz romântica dos locutores de estúdio, que ofereciam músicas para os ouvintes, foi abafada pelos estridentes carros de som. Os moradores dos vilarejos do Interior já não se sentam mais nos bancos da pracinha para ouvir mensagens musicais. A televisão acabou o fascínio das amplificadoras.
Na contramão da história dos meios de comunicações, que tiveram origem na velha amplificadora, embrião das emissoras de rádio, a radiodifusora de Ponta da Serra nasceu da idéia frustrada de colocar em funcionamento uma rádio comunitária: a Rádio Ponta da Serra, que funcionou durante alguns meses e terminou fechada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Diante das exigências legais para manter uma emissora comunitária, o técnico Toinho resolveu instalar uma amplificadora. Compraram um amplificador Delta, com 100 watts de potência, um velho computador, um microfone e alguns CDs e instalou o equipamento na sala da frente de sua casa, na Rua Monsenhor Assis Feitosa, 33, em Ponta da Serra.
Dali, ele transmite música, mensagens, avisos e aniversários para 12 caixas de som espalhadas em pontos estratégicos do povoado. “É uma prestação de serviço à comunidade”, diz o advogado Francisco Dionísio Alves.
A radiodifusora de Toinho funciona conforme os hábitos e costumes da comunidade. Não é ligada, por exemplo, ao meio dia, porque é a hora da madorna, o sono do almoço. Também a desligada à noite para não incomodar quem dorme cedo.
No mesmo ritmo lento, quase parando, é o sistema de manutenção da amplificadora. Toinho cobra apenas R$ 5,00 por anúncio. Com esta tabela ele consegue quase um salário mínimo por mês. É o suficiente para alimentar o sonho de possuir uma amplificadora. “Os avisos de morte e convite enterro são de graça”, diz ele, que justifica que é uma forma de ser solidário com a família.
Jornal
Com este orçamento mensal, (menos de R$ 400,00) ainda sobra dinheiro para editar o jornal “Ponta da Serra”, distribuído gratuitamente. O jornal mensal é impresso numa gráfica de Juazeiro por R$ 150,00 e tem tiragem de 500 exemplares.
O maior pagamento, segundo Toinho, é a satisfação de realizar um trabalho útil de prestação de serviço à comunidade. Separado da mulher, pai de 3 filhos, ele diz que preenche o vazio de sua vida com estes instrumentos de comunicação. O jornal lhe deu ânimo para fazer supletivo e ingressar no curso de História da Universidade Regional do Cariri.
O comunicador sertanejo mora sozinho numa casa ornamentada com santos e equipamentos eletrônicos. Mesmo curtindo a solidão voluntária de um solteirão, ele abriu o seu coração para a sua comunidade. O som que ecoa no povoado, através das caixas de som, é a voz contida de homem tímido, que não tem coragem de se apresentar em público.
Antônio Vicelmo Repórter
FUNÇÃO"A amplificadora do Toinho é uma maneira de ajudar a comunidade de várias formas"Dionísio AlvesAdvogado.
Mais informações:Radiodifusora de Ponta da SerraRua Monsenhor Assis Feitosa, 33Distrito de Ponta da Serra, no município do Crato(88) 3523.9153
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